por Teresa Simão
No passado dia 28 de novembro de 2015, teve lugar, na Casa
da Cultura de Marvão, o lançamento do romance Marvão
e Ammaia – O Paraíso Prometido, da
autoria de Florival Lança e editado pelas Edições Colibri.
O presidente da Câmara Municipal de Marvão abriu a sessão,
seguiram-se algumas palavras de Fernando Mão de Ferro, o editor, cabendo a
apresentação desta obra a Emília Mena, Diogo Júlio e Fernando Gomes. As
palavras finais foram proferidas, como é da praxe, pelo autor. Florival Lança,
atualmente a residir em Corroios, mas natural de uma pequena aldeia de Santiago
do Cacém, confidenciou-nos que encontrou a inspiração para a construção deste
romance um dia em que visitou Marvão na Al–Mossassa. Ao passear de noite pelas
ruas do burgo, sentiu que “todo o festival era intrínseco” e imediatamente
começou a imaginar como teriam sido as vivências noutros tempos.
Ainda que, na minha perspetiva de marvanense e leitora, o
lançamento fizesse mais sentido no castelo de Marvão ou na Ammaia, já que são
espaços muito citados na obra, a Casa da Cultura acolheu nessa tarde um momento
importante para a projeção do município de Marvão e para a dinamização da
ficção sobre um espaço que a todos encanta; tanto os naturais/residentes, como
aqueles que o visitam. Esperemos, pois, que este romance funcione também como
um incentivo para o surgimento de futuras obras literárias e/ou que tematizem o
potencial da região e das suas gentes.
Síntese e comentário
à obra:
Prefaciado pelo medievalista Bernardo de Vasconcelos e
Sousa, estamos perante uma obra cuja ação se desenrola essencialmente no
território que hoje corresponde ao concelho de Marvão, em pleno século XI, num
tempo de múltiplos conflitos entre cristãos e muçulmanos, bem como no seio dos
diversos grupos que os constituíam.
Desde o início até ao final, este romance histórico
revela-se um verdadeiro hino ao concelho de Marvão, pois muitas são as descrições
hiperbólicas do território marvanense, sobretudo na zona amuralhada, na Ammaia
e na zona dos Vidais. Ainda que a trama seja repleta de combates, vinganças,
traições; Marvão, e em especial o espaço intramuralhas, é sempre apresentado
como um espaço idílico, que transmite tranquilidade à maioria das personagens,
um local onde se tem acesso à tão almejada paz – “vos dou as boas-vindas ao
paraíso na terra: Marvão!”/ “Paz era Marvão!”.
A este espaço chega a família de Ibn Abu Talid e Zayra. Se
para os adultos Marvão representava um lugar de sossego relativamente a outros
espaços mais movimentados de onde vinham fugidos, um local “onde a roda do
tempo mais parecia que não rodava”; para os mais novos foi uma desilusão, pois
ali nada acontecia.
Quando tudo decorria dentro da normalidade e a família já
estava perfeitamente enquadrada na comunidade local, eis que Ibn Abu Talid foi
assassinado, o que veio originar uma série de mudanças no seio da sua família,
ao ponto de um escravo, Mohamede, passar a assumir grande protagonismo e
obrigar a viver mal a família que sempre o acolheu.
Os anos passaram e Ahmed Mottalib, o filho do casal,
expulsou Mohamede de Marvão, o que veio a gerar uma sede de vingança que
motivará muitos dos confrontos/ tragédias que se viverão neste território ao
longo da obra, sendo o mais dramático a decapitação da jovem Dyamylya Yassin.
Morta a sua amada e descobertos alguns crimes encomendados
por sua mãe, Ahmet Mottalib tornou-se um valente e perspicaz guerreiro, movido
pela vingança, que somente em Marvão encontrava o reencontro e a
reconciliação consigo próprio, pois, para si, “era doença e bálsamo, alegria e
solidão, enfim…uma droga” da qual não se queria libertar. Quando Badajoz foi
invadido e Ahmet foi ferido pelos cristãos, voltou a refugiar-se em Marvão e aí
o amor despertou nele novamente, desta vez pela jovem Iiarin. Embora
pertencentes a religiões diferentes, a força desse amor levou-a a converter-se
à religião muçulmana e assim tudo acabou em harmonia.
No final, o autor desafia o leitor, convidando-o a visitar
Marvão e assim poder atestar se a lenda que apresenta será ou não verdadeira.
Recorrendo a diversas descrições, algumas até um pouco
excessivas, o narrador conduz o leitor ao século XI e fá-lo sentir mais um
membro de toda aquela comunidade, deambulando pelos trilhos de Marvão e vivendo
de acordo com os costumes árabes. Uma trama interessante, apimentada com alguns
crimes e a vontade de compreender as suas motivações, bem como os seus
mentores, prende ainda mais o leitor, tornando a leitura, para além de
agradável, viciante.
Estamos, assim, perante uma obra que aconselho vivamente a
ler, quer ao leitor comum, quer especialmente a quem conheça Marvão, aqui tão
bem retratado.
Cara Teresa, obrigado por este excelente trabalho de divulgação de actividades culturais do concelho de Marvão.
ResponderEliminarNão é todos os dias que alguém escreve um livro de 300 páginas sobre Marvão e as suas gentes, mesmo que romanceado e, passado que foram 1 000 anos sobre o que por lá se conta.
Estou a começar a ler, não tenho por isso uma opinião formada, nem sobre a “estórea” nem sobre a escrita. Mas pelo que já li, estou agradado, e quero agradecer a Florival Lança o ter escolhido as terras onde nasci para dar largas à sua imaginação. A ele, e todos aqueles que tornaram a obra possível, deixo o meu obrigado.
À Teresa, seja bem-vinda a estas coisas da blogosfera. Ficamos à espera do próximo..., “Post”!
Caro João, penso que irá gostar da obra; através dela podemos viajar por Marvão de outra forma.
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