domingo, 24 de janeiro de 2016

Pequenas histórias e vivências da comunidade marvanense (3)

Por João Bugalhão

...e porque hoje é dia 24 de Janeiro!

Se a integração do concelho de Marvão em Castelo de Vide em 1895 foi uma coisa boa ou não, será algo que nunca saberemos. Possivelmente, como tudo na vida, seria uma coisa boa para uns e prejudicial para outros. O que nos fica da narração que vos venho fazendo, e do que ficou escrito, parece que para os de Castelo Vide seria bom, já para os de Marvão não o sabemos porque são poucos os relatos. Mesmo assim, não podemos esquecer que esses relatos são dos dirigentes da altura, e como sabemos, pela experiência da vida, nem sempre o que é bom para os dirigentes é o que é bom para o povo que dizem representar.

No caso de António de Mattos Magalhães, não sabendo nós, se por estes feitos se por outros, haveria de chegar a Par do Reino/Deputado, através da promoção do seu amigo Frederico Laranjo. Esta situação não impediu no entanto de ser considerado um dos grandes beneméritos do concelho, contribuindo às suas expensas para a construção de algumas obras públicas, nomeadamente escolas. Uma das mais curiosas é que consta na sua biografia da Câmara Municipal de Marvão, sobre as então importantes Termas da Fadagosa e que diz “Não tendo a Câmara Municipal disponibilidade financeira para custear a exploração das águas, nem verbas para custear as despesas do projecto de reedificação dos referidos banhos, deliberou em sessão de 4 de Outubro de 1885, que estas águas se vendessem em hasta pública, arrematando-as então o Dr. António de Mattos Magalhães.” 


Figura 1 - Fotografia de Marvão no início do século XX (Retirada do álbum do Facebook de Jorge Oliveira)


Outra ilação que podemos tirar desses tempos, independentemente das vantagens que se poderiam ter no cômputo nacional com a integração (ganhar força de escala), é que a anexação de uns por outros nem sempre será a melhor coisa. Cada comunidade tem as suas vivências, o seu orgulho, e sobretudo a sua história. Não será por mero acaso do destino que, há mais de 800 anos, existem aqui 2 concelhos e duas comunidades diferenciadas. Contrariar a história e a tradição não será nunca uma boa estratégia.

Voltando ao cerne da nossa narrativa, ficou assim o dia 24 de Janeiro de 1898 gravado na história de Marvão, como o dia da “restauração do concelho”, chegando a ser considerado feriado municipal. Das comemorações próximas dessa data, pouco se sabe.  Mas uma das que se sabe é que, 36 anos depois (!) em 1934, já em plena primavera salazarista, a coisa continuava a ser lembrada e comemorada pelos de Marvão, e então de uma forma épica como nunca nos tinha sido relatada. Atente-se no exemplo do discurso que fez, e deixou escrito, José Domingos de Oliveira, presidente da Comissão Administrativa da Câmara municipal de Marvão no dia 24 de Janeiro de 1934:



Foto de José Domingos Oliveira

Discurso retirado da Obra Centenário da Restauração do Concelho de Marvão da Autoria de Maria Ana Rodrigues Bernardo, pgs 33 e 34.


Hoje, passados 118 anos, embora com menos fulgor, a data continua a ser comemorada em Marvão, uns anos com mais entusiasmo outros nem por isso, como parece ser o caso deste ano. Perante os factos que vos citei tenho algumas dúvidas acerca da implicação dos marvanenses, sobretudo dos seus dirigentes, na desanexação/restauração do concelho de Marvão em 1898. O episódio mais parece um daqueles equívocos dos governantes centrais que fazem e desfazem com facilidade por decreto, o que antes outros haviam feito.  Se assim foi, os motivos para comemorar actos heróicos serão poucos, por isso as comemorações foram sempre tão fracas.

 No entanto, este episódio deve merecer a nossa reflexão nos dias de hoje, já que a história muitas vezes se repete como um círculo. Tenho dúvidas, nos tempos que correm, se a independência administrativa e financeira dos 2 concelhos (senão até mais alargada) se poderá manter por muito mais tempo com o despovoamento constante, impossível de parar, que os 2 concelhos têm sofrido; é que actualmente, juntos, não chegam aos 7 mil habitantes (só Marvão em 1971 tinha perto de 8 mil).  Já escrevi que sou favorável a uma “federação”, com uma só administração, constituída por Marvão, Castelo de Vide, Portalegre, Arronches e Monforte; mas com cada um dos concelhos a manter a sua identidade e representação democrática nessa administração. 

Anexação de uns pelos outros nunca! Olhemos para a história... 


sábado, 23 de janeiro de 2016

Pequenas histórias e vivências da comunidade marvanense (2)


Por João Bugalhão

Em princípios de 1897 o Partido Progressista de José Luciano de Castro chega ao governo de Portugal, substituindo os Regeneradores de Hintze Ribeiro que haviam patrocinado a reforma administrativa que suprimia vários concelhos do país, entre os quais como já referimos no artigo anterior, o concelho de Marvão. E como sempre na política e governação portuguesa, nada melhor para ser diferente e baralhar, que desfazer o que o anterior havia feito. E foi assim, também por “decreto” que se restaurou. Dando no entanto origem ao mito de heróis que talvez nada fizeram pela causa, mas que mais tarde, devido ao esquecimento e à falta de hábitos de escrita dos portugueses, se hão-de fazer grandes homenagens. 


Figura 1 - O imponente Arco da Aramenha, retirado dessa localidade no século XVIII e implantado à entrada da vila de Castelo de Vide onde hoje se situa o Hotel Sol e Serra. Viria a ser destruído em 1891 (?) ainda antes da anexação do concelho de Marvão.


Por isso, e um ano após estarem no governo, a 13 de Janeiro de 1898, os Progressistas elaboraram o seguinte decreto, que dizia no seu art.º 1º: “São restaurados os concelhos mencionados no mappa nº 1, que com o presente decreto baixa devidamente authenticado, ficando constituídos com as freguezias que no mesmo mappa lhes são respectivamente designadas e sendo incorporados nos districtos administrativos a que o mappa allude”. (1) E assim se cumpriu também no caso do concelho de Marvão.

Em 24 de Janeiro de 1898, em encontro que, segundo relatos, decorreu na aldeia da Escusa, os “nomeados” representantes dos marvanenses, tendo à frente António de Mattos Magalhães, receberam da parte da governação de Castelo de Vide os símbolos de Marvão que para lá haviam sido transferidos, nomeadamente, “utensílio, mobília e archivo”. Dizem os relatos que tudo decorreu dentro da melhor ordem e de acordo com as instruções do magistrado distrital. 

Três dias depois o Livro de Actas da Câmara de Marvão relata-nos o seguinte: “Anno do nascimento de Nosso senhor Jesus Christo de mil oitocentos e noventa e oito, nesta villa de Marvão a sala das sessões da Câmara Municipal deste concelho, reintegrado por decreto de 13 de Janeiro deste anno, aos 27 dias do mesmmo mez, a onde se achava o cidadão João José Magalhães, administrador deste concelho, previamente convidados a comparecer os cidadãos Dr. António de Mattos Magalhães, Manuel Joaquim Semedo, Francisco José de Carvalho, José Maria Forte e José Machado, monidos com as respectivas commonicações officiaes, que os nomeavam membros da Commissão Municipal para receberem posse dos seus respectivos logares prestando o juramento por lei determinado.” (2). 


Figura 2 - Fotografia de Marvão no início do século XX (Retirada do álbum do Facebook de Jorge Oliveira)

Assim se fez pois a desanexação/restauração do concelho de Marvão: por decreto governamental e com nomeação pelo Governador Civil de Portalegre de uma Comissão Administrativa para gerir o concelho. Desta comissão faziam parte apenas 2 membros que estavam na vereação extinta em 1895 António de Mattos Magalhães e José Maria Forte, sendo que o primeiro foi nomeado seu presidente.

Da parte dos registos marvanenses da altura, segundo a autora que venho citando, pouco podemos saber acerca das congratulações que aqui existiram pela devolução/restauração da soberania municipal do concelho de Marvão. Um dos poucos registos desse regozijo é um Ofício de 16 de Junho de 1898, enviado pelo vice-presidente da Comissão Administrativa José Maria Forte (já que o presidente/herói Mattos de Magalhães, não se aguentou muito tempo por aqui, e nessa altura já tinha rumado a outras paragens como deputado do reino), a agradecer a 4 personalidades consideradas importantes para o desiderato de então. Essas 4 personalidades foram: José Luciano de Castro (Chefe do Governo Central do Partido Progressista); João Ferreira de Pina Callado (Governador Civil de Portalegre); José Frederico Laranjo e António de Mattos Magalhães (Par do Reino/Deputados pelo Partido Progressista); que diziam com pequenas diferenças o seguinte: “Tenho a honra de levar a V. Ex.ª que a câmara da minha presidência resolveu, como protesto da mais viva gratidão e agradecimento pelo restabelecimento d´este concelho, que o retrato de V. Ex.ª fosse colocado na sala das suas sessões a fim de que a posteridade possa attestar os serviços prestados por V. Ex.ª à causa que prestou à câmara pelo restabelecimento d´estes concelho...” (3)

O Retrato de Mattos Magalhães ainda hoje lá permanece, dos outros nada sei!   

Mas se da parte dos marvanenses tudo parecia então, com o concelho restaurado, “cravos e rosas”, já o mesmo não se não podia dizer por parte dos de Castelo Vide, que viam assim perder, talvez a parte mais valiosa com que haviam sido brindados e a que sempre aspiraram. Embora tendo sido por pouco tempo, não deixava de ser uma perda, indo ao ponto de dizerem que, também os de Marvão, perdiam com a desanexação, como se pode ler no Livro de Actas da Câmara Municipal castelovidense. Leia-se, com muita atenção, como os de Castelo de Vide viam o concelho de Marvão: “...esta Vereação concorreo quanto pôde para assignalar as vantagens da anexação dos concelhos de Castello de Vide e de Marvão, agora desanexados (...) com grande prejuízo dos povos dos dois concelhos, que sempre viveram na melhor harmonia e assim hão-de continuar, estreitando-se cada vez mais as relações de família que os ligam e a comunidade de interesses comerciais e industriaes que convergem a Castello de Vide pela sua situação e elementos de vida. Crê que a desanexação não será duradora por quanto ella não exprime a vontade geral e obedeceu apenas, a velleidades d´alguns homens, que levados de nimio amor pelas suas ideias sacrificaram a consciência e legítimos interesses dos povos aos seus caprichos. Appela para o testemunho dos mesmos povos e elles dirão como nos dois anos que estiveram unidos experimentaram benefícios e melhoramentos que chegaram aos logares mais distantes e como em tudo se revelou melhoria na administração municipal, e d´ora em diante hão-de ver retrahidos esses benefícios principalmente nas freguezias de Marvão onde faltam indivíduos habilitados para a necessária rotação dos cargos públicos, e rendimentos para fazer face a despesas de administração e aos melhoramentos privativos da localidade. “ (3).  

Está bem abelha, como diria o outro! Isso soa-me a conversa de “colonizadores”, digo eu. Já lá vão 120 anos...

 (1) – BERNARDO, Maria Ana: Centenário da Restauração do Concelho de Marvão, 1998, pg 25.

(2) – Idem, pg 28

(3) – Idem, pg 31

(4) - Idem, pg 26

       

sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

O mundo dos outros (4)


Na sequência do Post que aqui publicámos, sobre a hipótese de constituição nos Bombeiros Voluntários de Marvão, de uma equipa de bombeiros para a prestação de actividades na área da protecção civil, visando a melhoria da prestação de socorro nas diversas vertentes da sua actuação, encontrámos hoje, na página do Facebook dos referidos Bombeiros, um esclarecimento/comentário por parte do Comandante Carlos Franco sobre o assunto.

Ao trazermos aqui mais uma vez este assunto ao conhecimento dos marvanenses, fazemo-lo não para levantar qualquer polémica acrescida, mas apenas para apelar, mais uma vez, à análise ponderada do assunto das partes implicadas, já que tal parece pertinente.

Também nos parece que o Sr. Comandante chama aqui a atenção para coisas muito sérias, que deveriam merecer uma reflexão aprofundada. Sobretudo num concelho em que, a acessibilidade aos cuidados de saúde são bastante deficitários, mesmo quando comparados com os concelhos limítrofes, e que esta equipa poderia ajudar a suprir algumas carências e necessidades da população marvanense. 
Haja pois algum bom senso e ponderação.

Aqui fica na íntegra, a mensagem/comentário do Sr. Comandante Carlos Franco, e que foi retirada daqui:


“Este assunto, muita conversa tem motivado e no meio de ameaças e constrangimentos, sinto a necessidade de clarificar o que levou a colocar este Post.

Como é público os bombeiros de Marvão têm poucos bombeiros, os equipamentos que possuímos são débeis, que por falta de bombeiros temos dificuldade em assegurar o socorro à população, os bombeiros são voluntários e não recebem dinheiro, por isso trabalham em outros ofícios, que os seus patrões dificilmente dispensam esses bombeiros para virem fazerem o seu serviço voluntario. Em suma, o corpo de bombeiros está dependente da boa vontade e disponibilidade de pessoas que no seu tempo livre são bombeiros activos e com a sua boa vontade vêm prestar o socorro/apoio à população.

Para esclarecer, existe também um pequeno grupo de bombeiros (7) que trabalha a tempo inteiro e recebe salário. A sua missão é assegurar os serviços de rotina, consultas, tratamentos, fisioterapia, hemodiálise, transferências entre hospitais, etc. Na maior parte do dia está ausente do quartel para efectuarem este tipo de serviço. Então quando ocorre um incêndio em uma habitação, um incêndio rural, acidente, acidente rodoviário, incêndio florestal, etc., como é que respondemos para prestar o socorro? Respondemos como podemos, e dependemos da mesma boa vontade dos bombeiros dos concelhos vizinhos, Castelo de Vide, Portalegre, Nisa, etc.

Aqui começa o meu dilema! As pessoas que vivem no concelho de Marvão e os seus visitantes não têm direito a terem um socorro rápido e eficaz? Quanto custa ao serviço nacional de saúde a recuperação de um doente que levou muito tempo a ser socorrido, quanto custa uma vida humana? Pode ser um amigo, conhecido, familiar ou até um familiar próximo.

O facto de trazer este assunto ao conhecimento dos cidadãos, à discussão, tem como base que, estes, são de interesse de todos e que sejam abertamente discutidos para posteriormente serem decididos por quem de direito.

Fará esta equipa a diferença na prestação do socorro à população? Na minha opinião é evidente que sim.

Será que pelo facto de investirmos este dinheiro iremos minimizar o tempo de chegada ao local de um sinistro ou irmos salvar alguma vida ou minimizar o tempo de recuperação de uma pessoa? Na minha opinião é evidente que sim.

Será que as pessoas e visitantes não têm direito um socorro mais rápido e eficaz? Na minha opinião é evidente que sim.

Será que este valor é significativo para um município que tem as contas em dia? Será que é importante criar 5 postos de trabalho?

Esta é a minha angústia e todos os dias trabalho e “pedincho”, regateio para que as pessoas do concelho de Marvão possam ser melhore servidas.

Estão os bombeiros voluntários, tal como eu, nesta missão apenas para servir a população e servi-la o melhor que podemos, conseguimos, sabemos de forma desinteressada sem nada pedir em troca.

Espero que tenha contribuído para o esclarecimento da importância da constituição de uma equipa de intervenção permanente nos bombeiros voluntários de Marvão.

Bem-haja!”

quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

Pequenas histórias e vivências da comunidade marvanense (1)

Por João Bugalhão

A partir de agora, e com alguma regularidade, aqui irei publicar pequenas histórias da vida marvanense, não obedecendo a qualquer ordem cronológica, e sem qualquer pretensiosismo de historiador, apenas e só o tentar dar a conhecer acontecimentos e factos do passado e estimular à sua análise. Podem ser acontecimentos históricos como o de hoje, mas podem ser apenas pequenas intervenções individuais e ocasionais na nossa vida comunitária. Isto poderá parecer básico para os especialistas, mas para o comum dos marvanenses poderá trazer algum conhecimento, e quem sabe, suscitar algumas dúvidas e estimular o estudo mais aprofundado, para além de poder provocar o contraditório. Se assim for terá valido a pena. Para começar, e porque por estes dias se celebra, no próximo dia 24 de Janeiro, mais uma data da restauração do concelho em 1898, aqui publicamos alguns episódios que antecederam essa data, mais propriamente alguns factos sobre essa integração do concelho de Marvão no de Castelo Vide. 


É mais ou menos do conhecimento geral dos marvanenses que o concelho de Marvão esteve adstrito ao concelho de Castelo de Vide nos finais do século XIX durante cerca de 2 anos, mais propriamente entre Outubro de 1895 e Janeiro de 1898. Já lá vão cerca de 120 anos. Desde então, Marvão é um dos 308 municípios de Portugal, sendo que 278 encontram-se sedeados no continente e os restantes 30 nos arquipélagos da Madeira e Açores.

O concelho de Marvão, um dos mais antigos e importantes de Portugal, foi suprimido por “Decreto” do governo central, como muitos outros no país nessa altura. No distrito de Portalegre, para além de Marvão, também foram suprimidos na mesma altura, Monforte, Gavião e Sousel. Diversas são as razões apontadas para estas extinções, mas na sua origem parecem estar razões de âmbito nacional, que foram, basicamente, duas: as dificuldades económicas do país e a falta de gestores ou administradores locais competentes.

No caso específico de Marvão, são escassas as fontes sobre as razões da sua integração no Concelho de Castelo de Vide. Hoje trago aqui 3 informações que poderão justificar essa integração, e pelas razões que em cima referi:

A primeira, de acordo com Maria Ana Bernardo (1), diz respeito ao que encontramos na última Acta de sessão camarária antes da integração, realizada em 5 de Setembro de 1995, parece que apenas motivada para se fazer uma representação de petição ao rei D. Carlos: “...pedindo concessão da entrada no concelho de pão vindo de Espanha. O mau ano agrícola resultara na escassez de cereais panificáveis e, para a vereação em funções, só a autorização régia para que cada pessoa pudesse trazer do país vizinho pelo menos 10 quilos de pão ajudaria a resolver o problema. Presentes nessa sessão estavam indivíduos que faziam parte da administração quando da extinção do concelho: Dr. António de Mattos Magalhães (presidente), Manuel Rodrigues Pinheiro (vice presidente), José Maria Forte, José Serra Júnior e Francisco Rosado (vereadores)."

Nessa época para além da vereação camarária existia um Administrador nomeado pelo poder central. É ele que, em ofício dirigido ao Governador Civil datado de 1 de Outubro de 1895, e registado no livro da correspondência expedida, nos dá também conta das mesmas dificuldades económicas. Mas mais que isso, também se queixa da falta de responsabilidade da administração camarária mesmo antes da integração, quando diz: “...há já três meses que eu e os empregados d´esta administração não recebem os seus vencimentos, dizendo o secretário da câmara que não se pagava em vista das folhas não estarem feitas e não haver aqui quem as assignassem. Espero que V. Ex.ª se digne providenciar porquanto poderá avaliar o grave transtorno que este facto ocasiona principalmente n´este momento, havendo em cofre da câmara a quantia não inferior a um conto de reis.” (2)

Para além destas duas citações, de acordo com a mesma autora pouco mais se pode apurar documentalmente e, nem uma nem a outra, fazem qualquer referência à integração próxima. Tal, digamos, é no mínimo estranho!

Mas se tal facto parece querer ser ignorado pelos de Marvão, já o mesmo não se pode dizer pelos integradores de Castelo de Vide, e em Acta de sessão extraordinária do dia 1 de Outubro de 1895, o presidente castelovidense, Pinto de Sequeira Costa, deixou lavrado o seguinte: “...tendo o Diário do Governo do dia trinta de Setembro último publicado o Decreto do dia 26 do dito mez a reforma da circunscrição administrativa do distrito de Portalegre, sendo classificado em segunda ordem o concelho de Castello de Vide, anexando-se-lhe o concelho de Marvão e resultando d´este facto um grade melhoramento que a todo este município deve satisfazer, entendi dever convidar os meus collegas, para em sessão solene e especial comemorarmos este acontecimento e significarmos o nosso reconhecimento a todos os que contribuíram para tão grande benefício.” (3)

Durante os dois anos e três meses que durou a anexação, segundo a autora que vimos citando, não foram encontrados documentos, nem em Marvão nem Castelo de Vide, que relatassem quais protestos ou desacatos pela integração de Marvão no Concelho de Castelo de Vide, nem dos dirigentes nem das populações. Também não foram encontrados relatos escritos de quaisquer actos heróicos que levassem à restauração do concelho em 24 de Janeiro de 1898. Se os houve, não se escreveram! Se se anexou por decreto, por decreto, governamental, se restaurou. Em conclusão silêncio de uns, exaltação de outros. Outras histórias se contam, mas essas ficam para outra ocasião!

(1) – BERNARDO, Maria Ana: Centenário da Restauração do Concelho de Marvão , 1998, pg 14.

(2) – Idem, pg 15

(3) – Idem, pg 16 
       

terça-feira, 19 de janeiro de 2016

O mundo dos outros (3)


De acordo com esta notícia, Marvão, entregou ontem no Ministério dos Negócios Estrangeiros a Ficha de Inscrição das Fortalezas Abaluartadas da Raia a Património Mundial.

No entanto, curioso parece ser a opinião do anterior estratega Ray Bondim, o tal apelidado de “José Mourinho” das candidaturas e grande "trunfo" da anterior candidatura de Marvão a Património Mundial! Que, em comentário nesse mesmo local, escreve o seguinte: “Parabens. I am very happy for Marvao though I have a different opinion”. Que é como quem diz em português: Parabéns. Estou muito feliz por Marvão apesar de eu ter uma opinião diferente.

A novela continua, e as mudanças de estratégia também!

sábado, 16 de janeiro de 2016

“Feliz” aniversário!

Por Nuno Pires

Hoje bem podia ser mais um daqueles dias em que o nosso Presidente Vítor Frutuoso poderia promover um Marvão d’ honra, chamar os jornalistas e convidar a população do concelho de Marvão para a comemoração de um 10º Aniversário.

Mas aniversário do quê? Perguntam vocês!

Pois é, faz hoje 10 anos que em reunião de câmara foi aprovado, a compra do loteamento do Vaqueirinho pelo preço de 100 mil euros ao Sr. Dr. Celestino Ventura Rodolfo. 10 anos passados, é visível o estado deste loteamento: abandonado, não cumprindo a sua função, sem condições para que se possa comprar lotes, e a decorrer um processo judicial que envolve o Município de Marvão e a construtora envolvida nas infra-estruturas.


Foto do Loteamentos Vaqueirinho em 2008


O Sr. Presidente Vítor Frutuoso que tanto defende a vantagem dos ajustes directos, defendendo que tal permite a possibilidade de se seleccionar empresas que dêem garantias, teve aqui mais um bom “presente” dos muitos com que tem sido brindado, e que posteriormente darei conhecimento em Posts futuros.

Toda a estratégia deste executivo para o Urbanismo e Habitação em 10 anos é um fracasso ruinoso, senão vejamos:

1 - Este executivo, assim que tomou posse em 2005, desatou a adquirir terrenos para construção de habitação que davam para construir mais de 50 habitações, nomeadamente: na Beirã, Santo António das Areias, Portagem e São Salvador de Aramenha. Quando as estatísticas já mostravam que isto não deveria ser uma opção prioritária, pois já existiam 2 apartamentos por família no concelho de Marvão;

2 - Nestes 10 anos, e nestes terrenos, não se construiu uma única casa! Só conseguiu reunir condições para vender 3 lotes no Loteamento de Santo António das Areias (2 à mesma pessoa). E mesmo assim, só em 2013 foi feita a hasta pública, para coincidir com o período do acto eleitoral das últimas autárquicas;

3 - Nos outros 3 Loteamentos um deles continua tal e qual o comprou, refiro-me ao da Beirã; o da Portagem, transformou-o numa Quinta Pedagógica (um projecto que até concorre com outros congéneres de iniciativa privada na mesma freguesia e prejudicando assim os poucos marvanenses empreendedores); e o do Vaqueirinho está conforme já referi.

4 - Com esta política “à vista” e sem planeamento, este executivo que não tem em conta as previsões de mercado, contribuiu claramente para o afastamento de investidores privados que investiram em loteamentos no concelho de Marvão e que tiveram de os abandonar em função da oferta que o Município então decidiu criar.

Recentemente, numa acção pública na Sociedade da Portagem, o Sr. Vereador José Manuel Pires, e o Sr. Presidente da Junta de Freguesia de São Salvador de Aramenha Tomás Morgado, informavam os presentes, onde eu me incluía, que havia muita procura por parte de empresários para instalarem o seu negócio na Portagem, e que as instalações da Sociedade poderiam ser uma alternativa para fixar estes empresários, com intenção de instalar na Freguesia os seus negócios!

Pergunto ao executivo que gere os destinos de Marvão, porque é que este loteamento não tem um único Lote com afectação para comércio e serviços?

Se tivessem tido isto em atenção e fosse este um processo normal, São Salvador de Aramenha poderia ter condições de fixação desses empresários. Dou como exemplo a Caixa Agrícola que tanto queria fixar-se nesta zona, mas que por falta de condições teve de rumar à Portagem contribuindo assim para a dispersão de serviços. Não seria mais prático os habitantes da freguesia de São Salvador quando se deslocam à Sede de Freguesia terem seu alcance atendimento médico, bancário, social e outros serviços que surgiriam por acréscimo?

Caríssimos Marvanenses, neste dia 16 de Janeiro de 2016, resta-nos cantar os Parabéns pelo 10º aniversário desta “opção política prioritária” do consulado de Vítor Frutuoso e seus pares, que consumiu recursos avultados, mas sem qualquer resultado prático até à data.

Estes dirigentes/gestores públicos, podem cometer erros, como estes, de palmatória, contribuindo assim para decisões erradas do desenvolvimento do nosso concelho, sendo certo que, se fossem administradores de uma empresa privada, com estes resultados práticos, não estariam cá para soprar as velas.

Feliz Aniversário pois! Que para o ano contem mais um e, nós, cá estejamos para ver...

Fotos do Loteamento do Vaqueirinho em Janeiro de 2016





sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

O mundo dos outros (2)



"Câmara municipal não apoia a constituição de uma equipa nos bombeiros de Marvão.

Está em cima da mesa a possibilidade de criar uma equipa de cinco elementos nos bombeiros de Marvão para prestar serviço a nível da protecção civil no concelho de Marvão. A responsabilidade do financiamento caberia, 50% a Câmara Municipal de Marvão e os outros 50% à Autoridade Nacional de Protecção Civil.

No entanto a Câmara Municipal parece que não reconhece a importância e relevância do assunto e não quer apoiar a constituição desta equipa. 

O concelho de Marvão fica mais pobre e vulnerável."


quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

Nós por cá (3) – 2 meses de publicações


É verdade, faz hoje 2 messes que este Blogue viu a luz do “dia”! Durante este período aqui se publicam 28 Posts (25 ainda em 2015 e 3 em 2016). Visitaram-nos cerca de 2 750 visitantes (média de 50 visitantes/dia); que visualizaram estas páginas cerca de 16 400 vezes.

Como se pode ver no gráfico abaixo, estas foram as visualizações diárias dos nossos visitantes durante o último mês.


Gráfico 1 - Visualizações das nossas páginas entre 16/12/2015 e 14/1/2016


Entretanto informamos os nossos visitantes que também, desde ontem, já nos podem encontrar no Facebook. Basta para tal que nos procurem em “Marvão para Todos”. Numa morada ou noutra, ou nas duas, para todos que nos visitam: OBRIGADO. 

Este é o nosso visual no facebook

segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

Ainda sobre Marvão e o Património Mundial: 4-2-4? 4-3-3? 4-4-2? Ou...

por João Bugalhão


Meus caros amigos estejam tranquilos! Não venho para aqui dar maçada com futebóis. Embora, pelo título, possa parecer. O assunto que aqui me trás hoje, é o já abordado aqui em baixo pelo Fernando Bonito - A Candidatura de Marvão a Património Mundial, que pelas diversas vicissitudes estratégicas que tem sofrido ao longo de 20 anos, mais parece, a evolução táctica por que tem passado o futebol.

Ao trazer aqui este assunto, não é porque o Fernando não o tenha tratado de uma forma completa e rigorosa, é antes e apenas uma complementarização e, simultaneamente, participar com a minha opinião num debate sobre um tema que tem estado na agenda dos marvanenses, e que tenho acompanhado ao longo de todo o seu percurso. Por outro lado, é também o tentar informar e sensibilizar a comunidade marvanense, acerca de um processo que não está concluído e que demora a ter o seu epílogo. Isto apesar de haver alguns marvanenses a pensarem que Marvão já tem essa distinção, tanto tem sido o ruído à volta do processo. No entanto conjecturo que, pelos caminhos por onde anda e tem andado, não será certamente durante a minha vida terrena, ou a de muitos de vós, que tal acontecerá.

Ao dar este título ao artigo, quando remeto para a comparação com a evolução das tácticas do futebol, quero dizer que também esta Candidatura já passou por diversos formatos, sem que até aos dias de hoje alguma se tenha tornado profícua. O processo tem servido mais para determinados autarcas e personalidades se promoverem eleitoralmente, sem que, efectivamente se tenha avançado nos resultados obtidos. Tem sido por assim dizer, o que acontece a uma “equipa” frágil/fraquinha: não há esquema táctico que lhe valha! Bem, para não dizerem que os termos são exagerados, digamos que, os resultados, não têm sido os anunciados.

1 - O “4-2-4” do tempo do Eusébio

Como muito bem diz o Fernando Bonito, o 1º projecto começou quando Manuel Bugalho em 1997 chegou à presidência da autarquia marvanense. Era um projecto aliciante, aglutinador e de consenso que ele trazia em “carteira”, que para além de ser um bem para Marvão (há excepção de alguns cépticos, poucos...!), era também uma forma para promover a sua projecção pessoal local, regional e/ou mesmo nacional. Durante 8 anos foi um implicar/gastar inúmeros recursos materiais e humanos neste sonho, com algumas realidades (carências da comunidade) a serem preteridas. Foi a “táctica” do apostar em Marvão (ou “do Marvão” como dizem os cosmopolitas lisboetas) como lugar único no mundo (geográfica e patrimonialmente): a sua singularidade! Só que essa definição só passava pela cabeça daqueles que nunca andaram pelo mundo, e quando tal “absurdo” chegou às portas da UNESCO, outros valores se levantaram (como foi a força política e o poder de outras candidaturas, como os casos das Ilhas Selvagens em 2003, e em 2004 das Vinhas do Pico dos Açores), e lá se foi a candidatura de Marvão! E para não “chumbarmos”, ou descermos de divisão se futebol fosse, em 2006 fomos compelidos a desistir, e o sonho de Manuel Bugalho não se realizou.

Não é que não tenham existido alguns avisos atempados, onde me incluo, mas nessa altura pouca gente me quis ouvir. Deixo aqui por exemplo um pequeno extracto de uma Declarações de Voto que fiz, enquanto membro da Assembleia Municipal dessa época:
Na Acta nº2 desse órgão em Abril de 2002 disse: “… faço uma análise francamente negativa sobre o deficit de peso político deste Executivo (entre outras coisas), para influenciar o ex - Governo Central do PS, a aceitar a Candidatura de Marvão a Património Mundial, projecto que o Executivo considera a “galinha de ovos de ouro” para o desenvolvimento do Concelho.”
Um ano depois em 29/4/2003 noutra Declaração de Voto, fiz a seguinte advertência: “…se as infra-estruturas subterrâneas na vila de Marvão não avançarem rapidamente, se não se resolver problema dos esgotos a céu aberto na encosta leste da vila, se não reformularmos a candidatura, se não se mobilizarem os marvanenses e os concelhos limítrofes de Portugal e Espanha para nossa causa, corremos o risco de a UNESCO nos mandar às urtigas, e não aprovar a Candidatura de Marvão.”

Infelizmente assim viria a acontecer. Foi a aposta falhada da táctica do “4-2-4”, como muito bem em tempos aqui (ver os diversos comentários)   se discutiu.  


2 - O “4-3-3” dos tempos do Cruyff

Entretanto tinha chegado ao poder em 2005 Vítor Frutuoso, que na sua génese, nunca vira com bons olhos a aposta neste projecto. Por isso, o falhanço da Candidatura, serviu na altura como arma de arremesso aos “sonhos” do anterior executivo, e de acusação por muitas falhas no não investimento em infra-estruturas reais no concelho. A “coisa” ficou assim esquecida nas gavetas 3 ou 4 anos.

Só que em finais de 2009 havia eleições e talvez, como por acaso (ou influenciados por uma tal Elvas), a “coisa” volta a saltar da gaveta. Havia então uma nova Candidatura, e claro uma nova “táctica”: A partir de então, a aposta, seria no clássico “4-3-3”!    

Dessa vez é que seria, afirmava-se então! Se sozinhos não conseguimos, juntamo-nos aos vizinhos de Elvas, Almeida, Estremoz e Valença do Minho, em Portugal; Olivença, Badajoz e Ciudad Rodrigo, em Espanha, fazemos uma candidatura das fortificações Abaluartadas da Raia Luso-Espanhola e não haverá UNESCO que nos resista. Não estava mal pensado, não senhor.

Só que em 2010, ainda se não tinham assimilado os métodos da nova táctica, Elvas aproveitando uma janela de oportunidade “clandestina” (arranjinho rondão - socrático), roeu a corda e com um treinador “tipo Jesus” que tinha estado como Coordenador da Candidatura de Marvão até 2006, fez uma Candidatura individual relâmpago (?) e em 2012, surpresa das surpresas, vê reconhecida pela UNESCO a sua “singularidade” como “o maior sistema de fortificações abaluartadas do mundo”!

E esta hein! Devem ter dito os restantes, entre eles Marvão. E a “coisa” abortou precocemente, com algumas birras e nomes à mistura! Nem sequer entrou em competição.

3 - O “4-2-3-1” de José Mourinho

Chegámos então a 2011. Passados os breves burricos, curadas as nódoas negras, isto das “tácticas” nunca deixam de evoluir, um certo dia numa conferência exterior, aparece um “tal” maltês a falar bem cá do burgo: que pois sim, era uma pena Marvão ficar para trás, por ele (se fosse ele) Marvão seria no dia seguinte Património da humanidade..., e zás, lá volta “coisa”. O anúncio foi feito aqui em Outubro de 2011.

Chegou a dizer-se, e proclamar-se, que Marvão havia contratado o “Mourinho” das candidaturas e, dessa vez, é que Marvão seria mesmo Património Mundial. Para tal bastaria desistir ou reformular as ideias anteriores (as tácticas velhas!). Qual “singularidade geográfica ou de património”? Qual fortalezas amuralhadas? Agora seria a Vila de Marvão, as suas gentes e costumes e os seus valiosos arredores (Sever, Ammaia, Megalítico, etc.). A “buffer zone” marvanense, como pomposamente lhe chamavam. Eu pus-lhe outro nome, mas não posso dizer aqui! E foi assim que se começou a ouvir falar do último grito da moda em tácticas: o famoso “4-2-3-1”.

Esse famoso “Mourinho” (perdoem, o Sr. Embaixador Ray Bondin) chegou a ser apresentado em Fevereiro de 2011, com pompa e circunstância à Assembleia Municipal de Marvão, que o acolheu com o fervor tipo adeptos de futebol no início de uma nova época. As coisas foram andando e, resultados, poucos ou nenhuns.
Em Abril de 2012, já após o meu abandono como Membro da AM, e em período destinado a perguntas do público, questionei o Executivo de Vítor Frutuoso sobre o processo, os seus custos e orçamentos futuros, como ficou expresso na Acta dessa Assembleia:
 
“O Sr. João Francisco Bugalhão solicitou informação acerca das contas do projecto de candidatura de Marvão a Património Mundial, quer da anterior, quer da actual.
O Sr. Vereador José Manuel Pires informou que a anterior custou aproximadamente 226 mil euros. Para a presente candidatura seria necessária, no entender do vereador, uma verba na ordem dos 15 mil euros.
Tomou a palavra o Sr. Presidente da Câmara Municipal que equacionou a realização de um fórum que avalie a vontade da população sobre a continuidade da candidatura a Património Mundial, defendendo, contudo, as grandes vantagens e benefícios que todo este processo trouxe a Marvão, quer na melhoria de infra-estruturas, quer na visibilidade que, em termos turísticos, se usufruiu com todo este processo. O Sr. Presidente esclareceu ainda, que Marvão necessita estar na ribalta para continuar a aumentar o seu número de visitantes, facto que se tem verificado, pese à grave conjuntura económica que se atravessa.”

Foi o único projecto da Candidatura em que vi o presidente Frutuoso deveras envolvido. Prometeu um Fórum, mas apenas realizou 3 Sessões de Esclarecimento, sempre com a sua presença, para ouvir os marvanenses! Estão aqui resumidas em reportagens que escrevi na altura: Marvão, - SA das Areias - SS da Aramenha.

Resultados e conclusões dessas Sessões, eu, nunca tive conhecimento e costumo andar atento. O que me ficou foi uma eloquente e incentivadora CartaAberta aos marvanenses, escrita por um dos Técnicos (Francisco Ramos)! Coisas nunca vistas anteriormente.

Não sei se toda esta implicação deu algum resultado acrescido para esse “novo” Projecto de Candidatura, a julgar pelos resultados, parece que não! Mas que serviu às mil maravilhas para a campanha eleitoral de 2013, isso não tenho dúvidas!

4 – O “4-4-2” de Jorge Jesus

E por fim quando todos pensávamos (depois de tantas promessas de sucesso anunciadas, de ida até à liga dos campeões), que as coisas do anterior processo iam “de vento em popa”, eis que, somos surpreendidos com nova mudança táctica, apresentada aqui pelo Vereador José Manuel Pires: parece que agora o “objecto” a candidatar (?) serão as praças amuralhadas da linha de fronteira mais velha da Europa: Portugal e Espanha.

Mas pergunto eu, se falamos de “fronteira”, como podemos falar das praças só de Portugal:
- Cidade - Quartel Fronteiriça de Elvas e suas Fortificações;
- Praça-Forte de Almeida;
- Praça de Marvão;
- Fortaleza de Valença.
E as de Espanha? E será que a fronteira entre os dois países ibéricos começa em Valença e acaba em Elvas? 

Deixo pois aqui, e para terminar, a minha intervenção na Reunião de Câmara de 21 de Dezembro de 2015, chamando a atenção para estas situações e em jeito de aviso, quando a “coisa” foi aí apresentada pelo Vereador José Manuel Pires:

“O Sr. João Bugalhão referiu que tem vindo a acompanhar o processo da candidatura a Património Mundial desde o princípio, não muito por dentro, mas sempre um pouco à distância, o que dá uma outra visão. Também acompanhou todas as sessões de esclarecimento ao público que foram feitas há 3 anos nas freguesias do concelho, até escreveu uma série de artigos na altura a alertar para a maioria dos problemas que se têm vindo a verificar.
Agora com esta nova táctica e mudança de estratégia acha que se poderia ter feito uma coisa mais abrangente, integrando todas as fortalezas de fronteira. Falou-se aqui de Castro Marim mas lembra também Mértola, Caminha, Miranda do Douro, e de certeza que na zona nordeste também haverá outras praças que pudessem integrar e que, certamente, pudessem fortalecer o processo.
Alertou ainda para que, se fosse ele que estivesse na cúpula da Unesco e lhe aparecesse um processo com o argumento de candidatar a “zona de fronteira mais antiga da Europa” e suas fortalezas, mas que apenas lhe aparecesse o lado português, imediatamente devolveria, e recomendaria que se integrassem os dois lados da fronteira: Portugal e Espanha. E certamente será assim que sucederá. Referiu ainda que, embora os prazos já sejam muito apertados, talvez pudessem ser chamadas todas a este processo.
Perguntou ainda se Marvão já parou para analisar o que é que tem corrido mal em cada um dos passos (processos estratégicos)? Se já assumiu as suas responsabilidades e culpas, sobretudo da última, que durante 4 anos nos tentaram “vender” como de sucesso garantido, e agora já estamos a entrar noutra? Porque é que se tem falhado? E que já deve ter sido gasto mais de um milhão de euros, e o barco nunca mais aporta!
Foi-nos dito que o “maior” nas Candidaturas era o Dr. Ray Bondin, que ele é que nos lá levaria (na candidatura de Marvão e zona envolvente), mas que falhou e já nem se ouve falar nele.
Era bom que se pensasse a sério, o quanto antes, numa estratégia ganhadora. Que tem vindo, há vários anos e antecipadamente, a chamar a atenção e a escrever sobre o assunto para prevenir alguns dos erros cometidos.”

A resposta do Sr. Vereador foi a seguinte:

“O Sr. Vereador, Dr. José Manuel Pires explicou que este processo está aberto a que novos parceiros possam entrar e que esta estratégia deverá ser a mais ganhadora. A ficha de inscrição que se está a preparar é para a lista indicativa de Portugal para que se tenha uma previsão da inscrição dos bens na fronteira, dos dois lados da raia. Espanha já tinha esse trabalho feito e Portugal está agora a fazer. Durante o ano 2016 será a compilação de todos os bens e só em 2017 se saberá. E mais fácil termos o carinho da Unesco estando numa candidatura em conjunto.”

Conclusão: Está dado o mote para as eleições de 2017

Nota: Entretanto, meu caro Fernando Bonito, e como questionaste os custos, eu estimo que ao longos destes 18 anos se gastaram cerca de 1 milhão de euros em todo o processo. Se serviram apenas para publicitar a “marca”? Isso não sei, mas deduzo que sim. Se só por isso valeu a pena? Pois eu acho que não, só para isso far-se-ia com facilidade mais barato! Mas o presidente diz que não faz mal, porque a maioria desse dinheiro veio de financiamentos, como se não tivesse que ser pago por alguém...

terça-feira, 5 de janeiro de 2016

Candidatura de Marvão a Património Mundial…nova sequela!

por Fernando Dias




Recentemente, surgiu em alguma comunicação social local e no site da CMM (http://www.cm-marvao.pt/pt/lista-noticias/545-fortalezas-abaluartadas-da-raia-apresentam-candidatura-conjunta-a-patrimonio-mundial)sem grande destaque, a notícia de que os municípios de Marvão, Elvas, Almeida e Valença apresentaram à Comissão Nacional da UNESCO uma proposta para inscrever as suas fortificações na lista indicativa do Património Mundial. O Município de Marvão esteve representado pelo vereador José Manuel Pires, pela consultora Vânia Rosa, consultora da “Augustos Mateus, consultores” e pelo historiador, arqueólogo e docente da Universidade de Évora, o marvanense Jorge Oliveira, como co-coordenador da candidatura.

Estamos, portanto, perante mais uma candidatura de Marvão a Património Mundial!

 Refiro que esta questão surgiu sem grande destaque, pois a comunicação social deu a notícia de forma quase telegráfica e no site da CMM a mesma surge ao mesmo nível de outras perfeitamente banais, como seja a tolerância de ponto dada aos trabalhadores nesta época festiva. Sublinha-se ainda o fraco, quase inexistente, envolvimento público do presidente do município nesta questão, pois não esteve na apresentação da candidatura e não promoveu, de forma vincada, esta temática no concelho e junto da comunicação social.


Eu, certamente como muitos, fiquei confuso com esta notícia e com a forma como a mesma surgiu e (não) foi divulgada. Por isso, para tentar entender o “enredo”, fiz uma rápida pesquisa na net sobre as várias “sequelas” desta epopeia, tipo “Guerra das Estrelas”, que é a candidatura de Marvão a Património Mundial.

Resumidamente:

1 – Em 1998, tem início a primeira candidatura de Marvão a Património Mundial, com a coordenação do Dr. Domingos Bucho.

2 – Em Maio de 2000, a candidatura é aprovada pela Comissão Nacional da UNESCO, passando Marvão, então, a integrar a lista indicativa, na qual são mencionados os motivos a propor pelo governo português para a futura classificação da vila como Património Mundial.

3 – A partir de 2002, por decisão do Comité de Património Mundial da UNESCO, cada país passou a poder apresentar apenas uma candidatura, tendo o governo português optado pela vinha da ilha do Pico, preterindo a Várzea de Santarém e o sítio de Marvão.

4 - Em 2003, Portugal candidatou as ilhas Selvagens, na Madeira, ficando assegurado que a apresentação da candidatura do sítio de Marvão, ocorreria em 2004, o que veio a verificar-se.

5 – Em Junho 2006, o executivo camarário decidiu retirar a candidatura de Marvão pelo facto do ICOMOS (Conselho Mundial de Monumentos e Sítios), um órgão consultivo da UNESCO que propõe os bens para a classificação de Património Cultural da Humanidade, ter dado parecer negativo à candidatura de Marvão. Um dos argumentos em que o ICOMOS se baseou para dar parecer negativo residiu no facto de "Marvão não ser único", existindo outros locais no mundo com as mesmas características deste sítio.

6 – Em Junho de 2006, o coordenador da comissão técnico-científica da candidatura de Marvão, Dr. Domingos Bucho, indicou que estava a ser equacionada a possibilidade de avançar com um novo processo, desta vez conjunto, com outros sítios de igual valor patrimonial em Portugal ou Espanha.

7 – Em Setembro de 2010, Marvão lança-se na sua segunda candidatura a Património Mundial, agora integrado num processo conjunto para a classificação das Fortificações Abaluartadas da Raia Luso-Espanhola, o qual tinha sido iniciado no ano anterior, que engloba Almeida, Elvas, Estremoz, Marvão e Valença, em Portugal, e Olivença, Badajoz e Ciudad Rodrigo, em Espanha.

8 - Em Fevereiro de 2011, realiza-se o lançamento do terceiro processo de candidatura de Marvão a Património Mundial, agora novamente de forma isolada, com a coordenação de Ray Bondin, embaixador de Malta na UNESCO e presidente do Comité Internacional das Cidades Históricas (CIVVIH), organismo integrado no Concelho Mundial de Monumentos e Sítios (ICOMOS). Desta vez, o processo de candidatura abrange o castelo da vila, a envolvente a Marvão, a Ammaia e o património megalítico e natural.

9 – Em 30 de junho de 2012, a cidade de Elvas (de forma isolada) torna-se Património Mundial, tendo, curiosamente, o Dr. Domingos Bucho como coordenador do dossiê de candidatura.

10 – Em Setembro de 2014, no âmbito da candidatura então em vigor, é lançado o livro “Marvão, estudos e documentos de apoio à Candidatura a Património Mundial”, coordenado pelo Professor Jorge Oliveira, o qual junta vários estudos sobre o território marvanense com vários temas como a biologia, a história, a geologia e a arqueologia, com o objetivo de “informar o dossier de candidatura de Marvão a património Mundial”.

 11 – Em Dezembro de 2015 é lançada a quarta candidatura de Marvão a Património Mundial, agora novamente conjunta, mas apenas com Elvas, Valença e Almeida. Na mesma, estes municípios pretendem elevar a Património Mundial as seguintes fortalezas abaluartadas da Raia: Cidade-Quartel Fronteiriça de Elvas e suas Fortificações, a Praça-Forte de Almeida, a Praça de Marvão e a Fortaleza de Valença.

Esta é, assim, uma história com quase duas décadas e várias “sequelas”!

Esclarecidos? Confusos?

Eu fiquei confuso!

Infelizmente, esta é uma história que até 2006 parecia muito feliz e agora, em 2016, me parece algo triste. Triste, porque:

a) – Parece não existir estratégia para atingir o tão ambicionado desígnio de Marvão chegar a Património Mundial. Diria, em linguagem de caçador, que se “atira a tudo o que mexe”! Parece que o que é importante é ir “renovando” a candidatura, mantendo a chama acesa, para daí tirar proveitos eleitoralistas.

b) – Não se esclarecem os marvanenses sobre o(s) processo(s) de candidatura e não se envolvem no(s) mesmo(s), tal como não se envolvem os concelhos vizinhos, que muito teriam a ganhar com o êxito de Marvão. Consequentemente, esta matéria em vez de ser uma “batalha” assumida por todas as forças marvanenses, torna-se, por vezes, motivo de “gincana” política.

c) – Não se entendem os avanços e recuos; ora candidatura individual, ora candidatura conjunta; e na conjunta, ora internacional, ora nacional!?

d) – O relacionamento com Elvas também parece, no mínimo, estranho. Elvas participa numa candidatura conjunta, mas “paralelamente” consegue o objetivo individualmente e com um coordenador “captado” a Marvão! E, posteriormente, integra nova candidatura conjunta!?

e) – Não se orçamentam os custos e não se informam os munícipes de quanto foi (e é) gasto nas variadas candidaturas. Em Maio de 2012 o presidente Vitor Frutuoso referiu à comunicação social que, até aquela data, tinham sido investidos 50 mil Euros na candidatura iniciada no ano anterior. Foi esta a única referência a custos que encontrei. Quanto terá já sido gasto na soma de todos estes processos, desde 1998?

Finalmente, refira-se que foi confrangedora a forma, digamos, banalizada como foi anunciada esta nova candidatura…

Sem envolvimento! Sem chama!

Eu considero que seria muito importante para Marvão e concelhos limítrofes o êxito na candidatura a Património Mundial. E que estes processos vão promovendo pesquisas importantes e deixando trabalho realizado, como seja o livro “Marvão, estudos e documentos de apoio à Candidatura a Património Mundial”, coordenado pelo Professor Jorge Oliveira, marvanense de elevada valia e profundo conhecedor do nosso património.

Mas será que esse caminho tem que continuar a ser percorrido a qualquer preço, caso se verifique que não é viável? Será que esse investimento, até ao momento infrutífero, canalizado para a promoção forte e séria da marca Marvão, isoladamente ou, preferencialmente, integrada com outras não se tornaria mais vantajoso?

Parece-me que esta é uma matéria que, no mínimo, merece um debate sério e profundo, a fim de, com o envolvimento de todos, se encontrar o caminho certo a percorrer.

Enfim, encontrar-se e definir-se “a” estratégia!

Nota: Informação consultada em:

http://www.cm-marvao.pt/pt/lista-noticias/545-fortalezas-abaluartadas-da-raia-apresentam-candidatura-conjunta-a-patrimonio-mundial

http://elvasnews.com/unesco-elvas-marvao-almeida-e-valenca-avancam-para-candidatura-conjunta/

http://www.publico.pt/culturaipsilon/noticia/candidatura-de-marvao-a-patrimonio-da-humanidade-retirada-para-evitar-a-sua-anulacao-1260812

http://diariodigital.sapo.pt/news.asp?id_news=232133

http://alemguadiana.blogs.sapo.pt/66969.html

http://www.instdesign.com/portfolio/bvdrcc/almeida-candidatura-das-fortificacoes-abaluartadas-da-raia-luso-espanhola-a-patrimonio-mundial-unesco

http://visao.sapo.pt/lusa/lusacultura/patrimonio-mundial-vila-fortificada-de-marvao-relanca-candidatura-em-conjunto-com-outros-municipios=f573307

http://www.cm-elvas.pt/pt/elvas-patrimonio-mundial-desde-2012

http://www.tvi24.iol.pt/sociedade/marvao-patrimonio-mundial/marvao-pondera-desistir-da-candidatura-a-patrimonio-mundial

http://www.publico.pt/local/noticia/marvao-pondera-retirar-candidatura-a-patrimonio-mundial-da-unesco-1547195

http://www.noticiasaominuto.com/cultura/102201/marv%c3%a3o-vai-candidatar-se-a-patrim%c3%b3nio-mundial-da-unesco

http://www.radioportalegre.pt/index.php/8-radio/2807-marvao-lanca-livro-de-apoio-a-candidatura-a-patrimonio-mundial.html

http://www.radiocampanario.com/r/index.php/regional1/6551-elvas-marvao-almeida-e-valenca-avancam-com-candidatura-conjunta-a-patrimonio-mundial