por João Bugalhão
Esta é uma rubrica que quero ir postando por aqui. Coisas que vamos encontrando sobre Marvão e os marvanenses. Sobretudo, coisas giras, como lhe chamo.
Hoje a que se segue, que encontrei na página do faceboock do amigo Caldeira Martins, e que partilho com os amigos do Marvão para Todos. Parece que o assunto até vem mesmo a propósito do Post anterior da Teresa. Não mudaram muito as coisas desde então! Oxalá o Florival tenha mais sorte!
Esta é uma rubrica que quero ir postando por aqui. Coisas que vamos encontrando sobre Marvão e os marvanenses. Sobretudo, coisas giras, como lhe chamo.
Hoje a que se segue, que encontrei na página do faceboock do amigo Caldeira Martins, e que partilho com os amigos do Marvão para Todos. Parece que o assunto até vem mesmo a propósito do Post anterior da Teresa. Não mudaram muito as coisas desde então! Oxalá o Florival tenha mais sorte!
Então vamos lá
ao primeiro, em homenagem aos marvanenses Altaneiro e Pedro Sobreiro, Caldeira
Martins e, o Cabo Dias. Outros lhe seguirão:
“Ainda
fresquinho da Escola de Jornalismo, o Pedro Sobreiro voltou para MARVÃO. Com as ilusões
próprias da idade, logo se atreveu à publicação de um jornal. O Pedro não é um
qualquer pé-de-microfone: é culto, possuidor de uma prosa espontânea,
escorreita, desembaraçada. Mais facilmente morreria por não escrever, do que
por não respirar. O que, neste país de enganos, o obrigou a ir ganhar o pão
noutro labor.
Recupero aqui o
texto com que ajudei à festa do aparecimento do número zero do " Altaneiro" em Dezembro de 1997.
OS VELHOS DA
CÂMARA
Aqui há uns anos,
poucos, passei pelo Museu de Marvão para consultar um velho opúsculo sobre os
tempos áureos das Termas da Fadagosa. Deixei-me de tal forma embrenhar na
leitura, que só dei pelo sujeito quando ele se dirigiu à funcionária. Era um
homem de meia-idade, baixo, envergando uma farda da Guarda-Fiscal que, ao
tempo, ensaiava já os seus últimos estertores.
Ora, como para
mim, paisano impenitente, os museus não parece fazerem parte dos itinerários
habituais das forças militarizadas, achei por bem, meter um intervalo no
assunto das águas sulfurosas e prestar um pouco de atenção ao gendarme.
O homem, de boné
na mão, quase como quem pede desculpa, disse:
- Olhe, eu vinha
comprar o livro de "Os velhos".
Queria comprar o quê? Tal como eu, a senhora, não percebeu. Assim, de chofre, se o visitante pretendia um livro dos velhos se, um livro de " Os velhos". De qualquer maneira, mal encaminhado vinha. Ele à procura de livros aqui a esta casa: os poucos livros velhos que havia não estavam à venda, e exemplares de " Os velhos", nem sequer um para amostra. E onde é que posso arranjar um? Terminou o cidadão.
-Ah, isso não
sei..., respondeu a funcionária.
A que propósito
vem este episódio ou, dito de outra maneira, onde é que está a moral desta
estória? Um pouco à semelhança do que dizia Jorge de Sena em relação a Portugal
e a Camões " maldito país este em que Camões morreu de fome e toda a gente
enche a barriga á custa de Camões".
Também o
concelho de Marvão todo se ufana por ter D. João da Câmara, já não digo como um
dos seus filhos, mas pelo menos como um familiar muito chegado. E até, com a
falta de imaginação que faz lei neste país, escarrapachou-lhe a graça nas
esquinas de, pelo menos, uma rua e um largo. No entanto, o essencial, a sua obra,
a parte da sua obra que mais de perto nos toca, morre à míngua do nosso
interesse, sem ninguém que a reanime e a dê a conhecer às gentes de agora.
Para além do seu
valor literário,"Os velhos" é um documento delicioso sobre a
linguagem, os usos, a maneira de pensar dos marvanejos de há cento e vinte
anos. Por isso, e citando João Apolinário, o poeta que em Marvão quis ficar
para sempre, " é preciso, imperioso e urgente" que as instituições
concelhias para isso vocacionadas, facilitem o acesso da população, não só à
peça teatral, como também a estudos que sobre ela se debrucem. Poderiam
começar, para já, pelas reedições da obra e de um estudo sobre a sua génese, do
professor Manuel Subtil, que em 1954,
a Câmara de Marvão patrocinou. Depois, é ganhar
embalagem e ir por aí fora.
Impressionado
pela curiosidade intelectual demonstrada pelo guarda, um dia lá lhe mandei para
o Posto da Beirã o meu, "Os velhos", numa edição de1909 que, por
ameaçar desintegrar-se, eu conservo com especial carinho. Mesmo sabendo que
quem empresta não melhora, arrisquei. E não me arrependi.
A minha vénia, Cabo
Dias.”
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