quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

Razões para fazer parte do Movimento Independente “Marvão para Todos”

por João Bugalhão


Desde sempre a política me fascinou. Quando tinha 10 anos de idade, ainda no tempo do anterior regime, quando dormia em casa de minha tia Júlia, que já me enfiava na cama com a cabeça bem tapada e, com o pequeno Hitachi que o primo Joaquim tinha trazido da longínqua Moçambique colado ao ouvido, não perdia as notícias em "onda curta" da rádio Argel, Moscovo ou BBC, para me informar do que se falava e dizia lá fora sobre política. Porque por cá, a dita, era para a união nacional e pouco mais, pois a censura e a polícia política tudo controlavam a bem da nação.

Quando cheguei aos 16 anos já andava metido em greves e tudo o que fosse contestações ao Estado Novo, nomeadamente, à aberração da guerra colonial. Nunca percebi porque não fui dentro, talvez me considerassem um bom rapaz, ou quem sabe, inofensivo! Mas se o 25 de Abril não se tivesse dado em 1974, quando eu acabava de fazer 17 anos, não tardaria a malhar com os costados em Caxias ou no Aljube, ou dito de outra maneira, seriam mas é eles a malhar-me os costados. Mas antes dos 20 anos de idade já a coisa política e as “politiquices” me tinham desiludido. Percebi que aquilo não era coisa para mim, e até à entrada do século XXI, apesar de a acompanhar, política activa nem pensar.

Por volta do ano 2000, já entrado na “ternura dos 40”, e pela paixão que o meu concelho me despertava lá voltei e, logo em 2001, haveria de ser eleito para a Assembleia Municipal de Marvão (AM), nas listas do PSD (porque era nesse partido que estavam as pessoas que trabalhavam na maioria das  associações, no trabalho voluntário), desenvolvendo ao longo desse mandato uma oposição feroz, mas frontal e construtiva, ao executivo PS de então liderado por Manuel Bugalho.

Foi assim que, por volta de 2004, após ter ajudado a fundar em Marvão a 1ª Secção Concelhia do PSD, onde fui eleito em 2 mandatos consecutivos vice-presidente, que começámos a trabalhar numa alternativa ao executivo PS. Fui assim, em 2005, um dos primeiros proponentes e apoiantes da candidatura de Vítor Frutuoso e mais um grupo de boas pessoas, alguns bastante jovens (outros nem tanto), que entraram na política por minha mão, nomeadamente, e que me lembre: Fernando Bonito, João Carlos Anselmo, José Manuel Baltazar, Cláudio Gordo, Rui Boto, Isabel Silva, etc. E só não estive na contratação de Pedro Sobreiro porque alguém se antecipou; e do Nuno Pires que, por essa altura, dizia que tinha mais que fazer do que se dedicar à política, mas tentei-o.

Por essa altura fui um dos mais ferrenhos defensores e lutadores pela candidatura de Vítor Frutuoso junto das instâncias distritais e nacionais que o não queriam (pois a preferência e escolha desses órgãos era outra: Joaquim Barbas), e sem qualquer modéstia e se um dia me quiserem fazer justiça, um dos obreiros (e não foram muitos) da vitória do projecto do PSD e de Vítor Frutuoso em Marvão. Pelo menos na génese, que é onde tudo começa! Ou seja, no abrir os alicerces que é sempre o mais difícil. Depois, fazer parede, qualquer servente a levanta.

Mas as coisas não me correram bem. Certamente não estarei isento de responsabilidades e erros (ai esta forma de ser...), e ainda antes da eleição, eu, que até era Director de Campanha e vice da tal Secção, de quem se dizia ser o “braço direito” de Frutuoso, já achei melhor arredar-me da contenda, e contentar-me com um simples lugar de membro da AM. Mas nunca desisti, durante 6 anos (até 2011) participei, propus, lutei, defendi, dei a cara pelo projecto até que pude.

Mas por essa altura as coisas já não eram a essência daquilo que eu ajudara a criar. Os projectos de equipa de 2004/2005, tinham dado lugar a um exercício de poder centrado no “chefe” e no favorecimento de clientelas de amigos e familiares. A Concelhia que eu idealizara, enquanto espaço de debate e aconselhamento ao executivo, foi assaltada pelos rapazes do presidente (boys, como são designados), e depois destruída em lume brando (há mais de 5 anos que não há uma reunião). Outros valores se começaram a levantar (uns têm os “jovens turcos”, outros os “moços das mijas”. E eu, para isso, não sirvo), e desisti. Não fui o primeiro, antes de mim já todos os nomes que em cima citei o tinham feito. E a juntar a esses, temos ainda de falar de nomes como Carlos Sequeira, Joaquim Simão, Mário Patrício, Manuel Martins, João Manuel Lança e muitos outros, que davam para fazer uma nova Lista.

Estou assim há 4 anos. Tenho a minha “tribuna retórica”, faço umas investigações documentais sobre Marvão e as suas gentes, observo e chateio os mandantes, mando umas “bocas” e, pouco mais. Mas a paixão pela minha terra, pelo meu concelho, mantém-se. Quem um dia nasceu naquelas encostas, bebeu daquelas fontes, viveu no seio daquelas gentes, ou respirou aquele ar frio, não a pode esquecer. E vê-la definhar, mesmo quando comparada com os seus vizinhos mais próximos: C. de Vide; Portalegre, Arronches ou mesmo Monforte; custa. 

Foi por isso, que quando constatei que, aqueles que comigo estiveram no projecto de 2005 e mais uns quantos, estavam prontos a voltar ao “sonho”, ao planeamento, aos projectos de equipa, a por a câmara ao serviço das pessoas e não as pessoa ao serviço da câmara, a arregaçar mangas, a enfrentar um poder instituído a cheirar a bafio (para não ser mais deselegante), com tiques de autoritarismo “caciqueiro”, ao serviço de clientelas duvidosas, que não ouve aqueles que se querem expressar livremente (por isso destruíram as estruturas que tanto trabalho deram a criar como foi o caso da Concelhia do PSD e que só serviu para a usarem de rampa de lançamento e controlo aos seus projectos pessoais), quando os “cromos” que se perfilam para substituir Frutuoso ainda são mais duvidosos que o “mestre”; que só podia dizer:

- Contem comigo. E aqui estou para ajudar a construir o tal Marvão para Todos!
  

2 comentários:

  1. João,quero que saibas que gostei desta tua publicação, de onde contas uma parte da tua vida.
    Quanto ao rádio Hitachi, comprado em 1966 na Ilha de Moçambique, já não está a funcionar, já não apanha a onda curta, faz no próximo ano cinquenta anos, está na pré-reforma.

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  2. Meu caro primo Joaquim, obrigado por este toque afectivo. Esse "Hitachi" foi o primeiro rádio que eu vi e ouvi na vida. Ele foi para mim uma das maiores fontes de aprendizagem e de ligação ao mundo. Sem ele, eu jamais seria aquilo que sou, pode imaginar o quanto lhe estou grato! Sem nunca esquecer a ti Júlia e a paciência que teve para me aturar. Eternamente grato: obrigado.

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