por João Bugalhão
Desde sempre a
política me fascinou. Quando tinha 10 anos de idade, ainda no tempo do anterior
regime, quando dormia em casa de minha tia Júlia, que já me enfiava na cama com
a cabeça bem tapada e, com o pequeno Hitachi que o primo Joaquim tinha trazido
da longínqua Moçambique colado ao ouvido, não perdia as notícias em "onda curta" da rádio
Argel, Moscovo ou BBC, para me informar do que se falava e dizia lá fora sobre
política. Porque por cá, a dita, era para a união nacional e pouco mais, pois a
censura e a polícia política tudo controlavam a bem da nação.
Quando cheguei
aos 16 anos já andava metido em greves e tudo o que fosse contestações ao
Estado Novo, nomeadamente, à aberração da guerra colonial. Nunca percebi porque
não fui dentro, talvez me considerassem um bom rapaz, ou quem sabe, inofensivo!
Mas se o 25 de Abril não se tivesse dado em 1974, quando eu acabava de fazer 17
anos, não tardaria a malhar com os costados em Caxias ou no Aljube, ou dito de
outra maneira, seriam mas é eles a malhar-me os costados. Mas antes dos 20 anos
de idade já a coisa política e as “politiquices” me tinham desiludido. Percebi
que aquilo não era coisa para mim, e até à entrada do século XXI, apesar de a
acompanhar, política activa nem pensar.
Por volta do ano
2000, já entrado na “ternura dos 40” ,
e pela paixão que o meu concelho me despertava lá voltei e, logo em 2001,
haveria de ser eleito para a Assembleia Municipal de Marvão (AM), nas listas do
PSD (porque era nesse partido que estavam as pessoas que trabalhavam na maioria das associações, no trabalho voluntário), desenvolvendo ao longo desse mandato uma
oposição feroz, mas frontal e construtiva, ao executivo PS de então liderado
por Manuel Bugalho.
Foi assim que,
por volta de 2004, após ter ajudado a fundar em Marvão a 1ª Secção Concelhia do
PSD, onde fui eleito em 2 mandatos consecutivos vice-presidente, que começámos
a trabalhar numa alternativa ao executivo PS. Fui assim, em 2005, um dos
primeiros proponentes e apoiantes da candidatura de Vítor Frutuoso e mais um
grupo de boas pessoas, alguns bastante jovens (outros nem tanto), que entraram
na política por minha mão, nomeadamente, e que me lembre: Fernando Bonito, João
Carlos Anselmo, José Manuel Baltazar, Cláudio Gordo, Rui Boto, Isabel Silva,
etc. E só não estive na contratação de Pedro Sobreiro porque alguém se
antecipou; e do Nuno Pires que, por essa altura, dizia que tinha mais que fazer
do que se dedicar à política, mas tentei-o.
Por essa altura
fui um dos mais ferrenhos defensores e lutadores pela candidatura de Vítor
Frutuoso junto das instâncias distritais e nacionais que o não queriam (pois a
preferência e escolha desses órgãos era outra: Joaquim Barbas), e sem qualquer
modéstia e se um dia me quiserem fazer justiça, um dos obreiros (e não foram
muitos) da vitória do projecto do PSD e de Vítor Frutuoso em Marvão. Pelo menos
na génese, que é onde tudo começa! Ou seja, no abrir os alicerces que é sempre
o mais difícil. Depois, fazer parede, qualquer servente a levanta.
Mas as coisas
não me correram bem. Certamente não estarei isento de responsabilidades e erros
(ai esta forma de ser...), e ainda antes da eleição, eu, que até era Director de
Campanha e vice da tal Secção, de quem se dizia ser o “braço direito” de
Frutuoso, já achei melhor arredar-me da contenda, e contentar-me com um simples
lugar de membro da AM. Mas nunca desisti, durante 6 anos (até 2011) participei,
propus, lutei, defendi, dei a cara pelo projecto até que pude.
Mas por essa
altura as coisas já não eram a essência daquilo que eu ajudara a criar. Os
projectos de equipa de 2004/2005, tinham dado lugar a um exercício de poder
centrado no “chefe” e no favorecimento de clientelas de amigos e familiares. A
Concelhia que eu idealizara, enquanto espaço de debate e aconselhamento ao
executivo, foi assaltada pelos rapazes do presidente (boys, como são
designados), e depois destruída em lume brando (há mais de 5 anos que não há
uma reunião). Outros valores se começaram a levantar (uns têm os “jovens
turcos”, outros os “moços das mijas”. E eu, para isso, não sirvo), e desisti.
Não fui o primeiro, antes de mim já todos os nomes que em cima citei o tinham
feito. E a juntar a esses, temos ainda de falar de nomes como Carlos Sequeira,
Joaquim Simão, Mário Patrício, Manuel Martins, João Manuel Lança e muitos
outros, que davam para fazer uma nova Lista.
Estou assim há 4
anos. Tenho a minha “tribuna retórica”, faço umas investigações documentais
sobre Marvão e as suas gentes, observo e chateio os mandantes, mando umas
“bocas” e, pouco mais. Mas a paixão pela minha terra, pelo meu concelho,
mantém-se. Quem um dia nasceu naquelas encostas, bebeu daquelas fontes, viveu
no seio daquelas gentes, ou respirou aquele ar frio, não a pode esquecer. E
vê-la definhar, mesmo quando comparada com os seus vizinhos mais próximos: C.
de Vide; Portalegre, Arronches ou mesmo Monforte; custa.
Foi por isso,
que quando constatei que, aqueles que comigo estiveram no projecto de 2005 e
mais uns quantos, estavam prontos a voltar ao “sonho”, ao planeamento, aos
projectos de equipa, a por a câmara ao serviço das pessoas e não as pessoa ao
serviço da câmara, a arregaçar mangas, a enfrentar um poder instituído a
cheirar a bafio (para não ser mais deselegante), com tiques de autoritarismo
“caciqueiro”, ao serviço de clientelas duvidosas, que não ouve aqueles que se
querem expressar livremente (por isso destruíram as estruturas que tanto
trabalho deram a criar como foi o caso da Concelhia do PSD e que só serviu para
a usarem de rampa de lançamento e controlo aos seus projectos pessoais), quando
os “cromos” que se perfilam para substituir Frutuoso ainda são mais duvidosos
que o “mestre”; que só podia dizer:
- Contem comigo.
E aqui estou para ajudar a construir o tal Marvão
para Todos!
João,quero que saibas que gostei desta tua publicação, de onde contas uma parte da tua vida.
ResponderEliminarQuanto ao rádio Hitachi, comprado em 1966 na Ilha de Moçambique, já não está a funcionar, já não apanha a onda curta, faz no próximo ano cinquenta anos, está na pré-reforma.
Meu caro primo Joaquim, obrigado por este toque afectivo. Esse "Hitachi" foi o primeiro rádio que eu vi e ouvi na vida. Ele foi para mim uma das maiores fontes de aprendizagem e de ligação ao mundo. Sem ele, eu jamais seria aquilo que sou, pode imaginar o quanto lhe estou grato! Sem nunca esquecer a ti Júlia e a paciência que teve para me aturar. Eternamente grato: obrigado.
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