segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

Ainda sobre Marvão e o Património Mundial: 4-2-4? 4-3-3? 4-4-2? Ou...

por João Bugalhão


Meus caros amigos estejam tranquilos! Não venho para aqui dar maçada com futebóis. Embora, pelo título, possa parecer. O assunto que aqui me trás hoje, é o já abordado aqui em baixo pelo Fernando Bonito - A Candidatura de Marvão a Património Mundial, que pelas diversas vicissitudes estratégicas que tem sofrido ao longo de 20 anos, mais parece, a evolução táctica por que tem passado o futebol.

Ao trazer aqui este assunto, não é porque o Fernando não o tenha tratado de uma forma completa e rigorosa, é antes e apenas uma complementarização e, simultaneamente, participar com a minha opinião num debate sobre um tema que tem estado na agenda dos marvanenses, e que tenho acompanhado ao longo de todo o seu percurso. Por outro lado, é também o tentar informar e sensibilizar a comunidade marvanense, acerca de um processo que não está concluído e que demora a ter o seu epílogo. Isto apesar de haver alguns marvanenses a pensarem que Marvão já tem essa distinção, tanto tem sido o ruído à volta do processo. No entanto conjecturo que, pelos caminhos por onde anda e tem andado, não será certamente durante a minha vida terrena, ou a de muitos de vós, que tal acontecerá.

Ao dar este título ao artigo, quando remeto para a comparação com a evolução das tácticas do futebol, quero dizer que também esta Candidatura já passou por diversos formatos, sem que até aos dias de hoje alguma se tenha tornado profícua. O processo tem servido mais para determinados autarcas e personalidades se promoverem eleitoralmente, sem que, efectivamente se tenha avançado nos resultados obtidos. Tem sido por assim dizer, o que acontece a uma “equipa” frágil/fraquinha: não há esquema táctico que lhe valha! Bem, para não dizerem que os termos são exagerados, digamos que, os resultados, não têm sido os anunciados.

1 - O “4-2-4” do tempo do Eusébio

Como muito bem diz o Fernando Bonito, o 1º projecto começou quando Manuel Bugalho em 1997 chegou à presidência da autarquia marvanense. Era um projecto aliciante, aglutinador e de consenso que ele trazia em “carteira”, que para além de ser um bem para Marvão (há excepção de alguns cépticos, poucos...!), era também uma forma para promover a sua projecção pessoal local, regional e/ou mesmo nacional. Durante 8 anos foi um implicar/gastar inúmeros recursos materiais e humanos neste sonho, com algumas realidades (carências da comunidade) a serem preteridas. Foi a “táctica” do apostar em Marvão (ou “do Marvão” como dizem os cosmopolitas lisboetas) como lugar único no mundo (geográfica e patrimonialmente): a sua singularidade! Só que essa definição só passava pela cabeça daqueles que nunca andaram pelo mundo, e quando tal “absurdo” chegou às portas da UNESCO, outros valores se levantaram (como foi a força política e o poder de outras candidaturas, como os casos das Ilhas Selvagens em 2003, e em 2004 das Vinhas do Pico dos Açores), e lá se foi a candidatura de Marvão! E para não “chumbarmos”, ou descermos de divisão se futebol fosse, em 2006 fomos compelidos a desistir, e o sonho de Manuel Bugalho não se realizou.

Não é que não tenham existido alguns avisos atempados, onde me incluo, mas nessa altura pouca gente me quis ouvir. Deixo aqui por exemplo um pequeno extracto de uma Declarações de Voto que fiz, enquanto membro da Assembleia Municipal dessa época:
Na Acta nº2 desse órgão em Abril de 2002 disse: “… faço uma análise francamente negativa sobre o deficit de peso político deste Executivo (entre outras coisas), para influenciar o ex - Governo Central do PS, a aceitar a Candidatura de Marvão a Património Mundial, projecto que o Executivo considera a “galinha de ovos de ouro” para o desenvolvimento do Concelho.”
Um ano depois em 29/4/2003 noutra Declaração de Voto, fiz a seguinte advertência: “…se as infra-estruturas subterrâneas na vila de Marvão não avançarem rapidamente, se não se resolver problema dos esgotos a céu aberto na encosta leste da vila, se não reformularmos a candidatura, se não se mobilizarem os marvanenses e os concelhos limítrofes de Portugal e Espanha para nossa causa, corremos o risco de a UNESCO nos mandar às urtigas, e não aprovar a Candidatura de Marvão.”

Infelizmente assim viria a acontecer. Foi a aposta falhada da táctica do “4-2-4”, como muito bem em tempos aqui (ver os diversos comentários)   se discutiu.  


2 - O “4-3-3” dos tempos do Cruyff

Entretanto tinha chegado ao poder em 2005 Vítor Frutuoso, que na sua génese, nunca vira com bons olhos a aposta neste projecto. Por isso, o falhanço da Candidatura, serviu na altura como arma de arremesso aos “sonhos” do anterior executivo, e de acusação por muitas falhas no não investimento em infra-estruturas reais no concelho. A “coisa” ficou assim esquecida nas gavetas 3 ou 4 anos.

Só que em finais de 2009 havia eleições e talvez, como por acaso (ou influenciados por uma tal Elvas), a “coisa” volta a saltar da gaveta. Havia então uma nova Candidatura, e claro uma nova “táctica”: A partir de então, a aposta, seria no clássico “4-3-3”!    

Dessa vez é que seria, afirmava-se então! Se sozinhos não conseguimos, juntamo-nos aos vizinhos de Elvas, Almeida, Estremoz e Valença do Minho, em Portugal; Olivença, Badajoz e Ciudad Rodrigo, em Espanha, fazemos uma candidatura das fortificações Abaluartadas da Raia Luso-Espanhola e não haverá UNESCO que nos resista. Não estava mal pensado, não senhor.

Só que em 2010, ainda se não tinham assimilado os métodos da nova táctica, Elvas aproveitando uma janela de oportunidade “clandestina” (arranjinho rondão - socrático), roeu a corda e com um treinador “tipo Jesus” que tinha estado como Coordenador da Candidatura de Marvão até 2006, fez uma Candidatura individual relâmpago (?) e em 2012, surpresa das surpresas, vê reconhecida pela UNESCO a sua “singularidade” como “o maior sistema de fortificações abaluartadas do mundo”!

E esta hein! Devem ter dito os restantes, entre eles Marvão. E a “coisa” abortou precocemente, com algumas birras e nomes à mistura! Nem sequer entrou em competição.

3 - O “4-2-3-1” de José Mourinho

Chegámos então a 2011. Passados os breves burricos, curadas as nódoas negras, isto das “tácticas” nunca deixam de evoluir, um certo dia numa conferência exterior, aparece um “tal” maltês a falar bem cá do burgo: que pois sim, era uma pena Marvão ficar para trás, por ele (se fosse ele) Marvão seria no dia seguinte Património da humanidade..., e zás, lá volta “coisa”. O anúncio foi feito aqui em Outubro de 2011.

Chegou a dizer-se, e proclamar-se, que Marvão havia contratado o “Mourinho” das candidaturas e, dessa vez, é que Marvão seria mesmo Património Mundial. Para tal bastaria desistir ou reformular as ideias anteriores (as tácticas velhas!). Qual “singularidade geográfica ou de património”? Qual fortalezas amuralhadas? Agora seria a Vila de Marvão, as suas gentes e costumes e os seus valiosos arredores (Sever, Ammaia, Megalítico, etc.). A “buffer zone” marvanense, como pomposamente lhe chamavam. Eu pus-lhe outro nome, mas não posso dizer aqui! E foi assim que se começou a ouvir falar do último grito da moda em tácticas: o famoso “4-2-3-1”.

Esse famoso “Mourinho” (perdoem, o Sr. Embaixador Ray Bondin) chegou a ser apresentado em Fevereiro de 2011, com pompa e circunstância à Assembleia Municipal de Marvão, que o acolheu com o fervor tipo adeptos de futebol no início de uma nova época. As coisas foram andando e, resultados, poucos ou nenhuns.
Em Abril de 2012, já após o meu abandono como Membro da AM, e em período destinado a perguntas do público, questionei o Executivo de Vítor Frutuoso sobre o processo, os seus custos e orçamentos futuros, como ficou expresso na Acta dessa Assembleia:
 
“O Sr. João Francisco Bugalhão solicitou informação acerca das contas do projecto de candidatura de Marvão a Património Mundial, quer da anterior, quer da actual.
O Sr. Vereador José Manuel Pires informou que a anterior custou aproximadamente 226 mil euros. Para a presente candidatura seria necessária, no entender do vereador, uma verba na ordem dos 15 mil euros.
Tomou a palavra o Sr. Presidente da Câmara Municipal que equacionou a realização de um fórum que avalie a vontade da população sobre a continuidade da candidatura a Património Mundial, defendendo, contudo, as grandes vantagens e benefícios que todo este processo trouxe a Marvão, quer na melhoria de infra-estruturas, quer na visibilidade que, em termos turísticos, se usufruiu com todo este processo. O Sr. Presidente esclareceu ainda, que Marvão necessita estar na ribalta para continuar a aumentar o seu número de visitantes, facto que se tem verificado, pese à grave conjuntura económica que se atravessa.”

Foi o único projecto da Candidatura em que vi o presidente Frutuoso deveras envolvido. Prometeu um Fórum, mas apenas realizou 3 Sessões de Esclarecimento, sempre com a sua presença, para ouvir os marvanenses! Estão aqui resumidas em reportagens que escrevi na altura: Marvão, - SA das Areias - SS da Aramenha.

Resultados e conclusões dessas Sessões, eu, nunca tive conhecimento e costumo andar atento. O que me ficou foi uma eloquente e incentivadora CartaAberta aos marvanenses, escrita por um dos Técnicos (Francisco Ramos)! Coisas nunca vistas anteriormente.

Não sei se toda esta implicação deu algum resultado acrescido para esse “novo” Projecto de Candidatura, a julgar pelos resultados, parece que não! Mas que serviu às mil maravilhas para a campanha eleitoral de 2013, isso não tenho dúvidas!

4 – O “4-4-2” de Jorge Jesus

E por fim quando todos pensávamos (depois de tantas promessas de sucesso anunciadas, de ida até à liga dos campeões), que as coisas do anterior processo iam “de vento em popa”, eis que, somos surpreendidos com nova mudança táctica, apresentada aqui pelo Vereador José Manuel Pires: parece que agora o “objecto” a candidatar (?) serão as praças amuralhadas da linha de fronteira mais velha da Europa: Portugal e Espanha.

Mas pergunto eu, se falamos de “fronteira”, como podemos falar das praças só de Portugal:
- Cidade - Quartel Fronteiriça de Elvas e suas Fortificações;
- Praça-Forte de Almeida;
- Praça de Marvão;
- Fortaleza de Valença.
E as de Espanha? E será que a fronteira entre os dois países ibéricos começa em Valença e acaba em Elvas? 

Deixo pois aqui, e para terminar, a minha intervenção na Reunião de Câmara de 21 de Dezembro de 2015, chamando a atenção para estas situações e em jeito de aviso, quando a “coisa” foi aí apresentada pelo Vereador José Manuel Pires:

“O Sr. João Bugalhão referiu que tem vindo a acompanhar o processo da candidatura a Património Mundial desde o princípio, não muito por dentro, mas sempre um pouco à distância, o que dá uma outra visão. Também acompanhou todas as sessões de esclarecimento ao público que foram feitas há 3 anos nas freguesias do concelho, até escreveu uma série de artigos na altura a alertar para a maioria dos problemas que se têm vindo a verificar.
Agora com esta nova táctica e mudança de estratégia acha que se poderia ter feito uma coisa mais abrangente, integrando todas as fortalezas de fronteira. Falou-se aqui de Castro Marim mas lembra também Mértola, Caminha, Miranda do Douro, e de certeza que na zona nordeste também haverá outras praças que pudessem integrar e que, certamente, pudessem fortalecer o processo.
Alertou ainda para que, se fosse ele que estivesse na cúpula da Unesco e lhe aparecesse um processo com o argumento de candidatar a “zona de fronteira mais antiga da Europa” e suas fortalezas, mas que apenas lhe aparecesse o lado português, imediatamente devolveria, e recomendaria que se integrassem os dois lados da fronteira: Portugal e Espanha. E certamente será assim que sucederá. Referiu ainda que, embora os prazos já sejam muito apertados, talvez pudessem ser chamadas todas a este processo.
Perguntou ainda se Marvão já parou para analisar o que é que tem corrido mal em cada um dos passos (processos estratégicos)? Se já assumiu as suas responsabilidades e culpas, sobretudo da última, que durante 4 anos nos tentaram “vender” como de sucesso garantido, e agora já estamos a entrar noutra? Porque é que se tem falhado? E que já deve ter sido gasto mais de um milhão de euros, e o barco nunca mais aporta!
Foi-nos dito que o “maior” nas Candidaturas era o Dr. Ray Bondin, que ele é que nos lá levaria (na candidatura de Marvão e zona envolvente), mas que falhou e já nem se ouve falar nele.
Era bom que se pensasse a sério, o quanto antes, numa estratégia ganhadora. Que tem vindo, há vários anos e antecipadamente, a chamar a atenção e a escrever sobre o assunto para prevenir alguns dos erros cometidos.”

A resposta do Sr. Vereador foi a seguinte:

“O Sr. Vereador, Dr. José Manuel Pires explicou que este processo está aberto a que novos parceiros possam entrar e que esta estratégia deverá ser a mais ganhadora. A ficha de inscrição que se está a preparar é para a lista indicativa de Portugal para que se tenha uma previsão da inscrição dos bens na fronteira, dos dois lados da raia. Espanha já tinha esse trabalho feito e Portugal está agora a fazer. Durante o ano 2016 será a compilação de todos os bens e só em 2017 se saberá. E mais fácil termos o carinho da Unesco estando numa candidatura em conjunto.”

Conclusão: Está dado o mote para as eleições de 2017

Nota: Entretanto, meu caro Fernando Bonito, e como questionaste os custos, eu estimo que ao longos destes 18 anos se gastaram cerca de 1 milhão de euros em todo o processo. Se serviram apenas para publicitar a “marca”? Isso não sei, mas deduzo que sim. Se só por isso valeu a pena? Pois eu acho que não, só para isso far-se-ia com facilidade mais barato! Mas o presidente diz que não faz mal, porque a maioria desse dinheiro veio de financiamentos, como se não tivesse que ser pago por alguém...

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