terça-feira, 5 de janeiro de 2016

Candidatura de Marvão a Património Mundial…nova sequela!

por Fernando Dias




Recentemente, surgiu em alguma comunicação social local e no site da CMM (http://www.cm-marvao.pt/pt/lista-noticias/545-fortalezas-abaluartadas-da-raia-apresentam-candidatura-conjunta-a-patrimonio-mundial)sem grande destaque, a notícia de que os municípios de Marvão, Elvas, Almeida e Valença apresentaram à Comissão Nacional da UNESCO uma proposta para inscrever as suas fortificações na lista indicativa do Património Mundial. O Município de Marvão esteve representado pelo vereador José Manuel Pires, pela consultora Vânia Rosa, consultora da “Augustos Mateus, consultores” e pelo historiador, arqueólogo e docente da Universidade de Évora, o marvanense Jorge Oliveira, como co-coordenador da candidatura.

Estamos, portanto, perante mais uma candidatura de Marvão a Património Mundial!

 Refiro que esta questão surgiu sem grande destaque, pois a comunicação social deu a notícia de forma quase telegráfica e no site da CMM a mesma surge ao mesmo nível de outras perfeitamente banais, como seja a tolerância de ponto dada aos trabalhadores nesta época festiva. Sublinha-se ainda o fraco, quase inexistente, envolvimento público do presidente do município nesta questão, pois não esteve na apresentação da candidatura e não promoveu, de forma vincada, esta temática no concelho e junto da comunicação social.


Eu, certamente como muitos, fiquei confuso com esta notícia e com a forma como a mesma surgiu e (não) foi divulgada. Por isso, para tentar entender o “enredo”, fiz uma rápida pesquisa na net sobre as várias “sequelas” desta epopeia, tipo “Guerra das Estrelas”, que é a candidatura de Marvão a Património Mundial.

Resumidamente:

1 – Em 1998, tem início a primeira candidatura de Marvão a Património Mundial, com a coordenação do Dr. Domingos Bucho.

2 – Em Maio de 2000, a candidatura é aprovada pela Comissão Nacional da UNESCO, passando Marvão, então, a integrar a lista indicativa, na qual são mencionados os motivos a propor pelo governo português para a futura classificação da vila como Património Mundial.

3 – A partir de 2002, por decisão do Comité de Património Mundial da UNESCO, cada país passou a poder apresentar apenas uma candidatura, tendo o governo português optado pela vinha da ilha do Pico, preterindo a Várzea de Santarém e o sítio de Marvão.

4 - Em 2003, Portugal candidatou as ilhas Selvagens, na Madeira, ficando assegurado que a apresentação da candidatura do sítio de Marvão, ocorreria em 2004, o que veio a verificar-se.

5 – Em Junho 2006, o executivo camarário decidiu retirar a candidatura de Marvão pelo facto do ICOMOS (Conselho Mundial de Monumentos e Sítios), um órgão consultivo da UNESCO que propõe os bens para a classificação de Património Cultural da Humanidade, ter dado parecer negativo à candidatura de Marvão. Um dos argumentos em que o ICOMOS se baseou para dar parecer negativo residiu no facto de "Marvão não ser único", existindo outros locais no mundo com as mesmas características deste sítio.

6 – Em Junho de 2006, o coordenador da comissão técnico-científica da candidatura de Marvão, Dr. Domingos Bucho, indicou que estava a ser equacionada a possibilidade de avançar com um novo processo, desta vez conjunto, com outros sítios de igual valor patrimonial em Portugal ou Espanha.

7 – Em Setembro de 2010, Marvão lança-se na sua segunda candidatura a Património Mundial, agora integrado num processo conjunto para a classificação das Fortificações Abaluartadas da Raia Luso-Espanhola, o qual tinha sido iniciado no ano anterior, que engloba Almeida, Elvas, Estremoz, Marvão e Valença, em Portugal, e Olivença, Badajoz e Ciudad Rodrigo, em Espanha.

8 - Em Fevereiro de 2011, realiza-se o lançamento do terceiro processo de candidatura de Marvão a Património Mundial, agora novamente de forma isolada, com a coordenação de Ray Bondin, embaixador de Malta na UNESCO e presidente do Comité Internacional das Cidades Históricas (CIVVIH), organismo integrado no Concelho Mundial de Monumentos e Sítios (ICOMOS). Desta vez, o processo de candidatura abrange o castelo da vila, a envolvente a Marvão, a Ammaia e o património megalítico e natural.

9 – Em 30 de junho de 2012, a cidade de Elvas (de forma isolada) torna-se Património Mundial, tendo, curiosamente, o Dr. Domingos Bucho como coordenador do dossiê de candidatura.

10 – Em Setembro de 2014, no âmbito da candidatura então em vigor, é lançado o livro “Marvão, estudos e documentos de apoio à Candidatura a Património Mundial”, coordenado pelo Professor Jorge Oliveira, o qual junta vários estudos sobre o território marvanense com vários temas como a biologia, a história, a geologia e a arqueologia, com o objetivo de “informar o dossier de candidatura de Marvão a património Mundial”.

 11 – Em Dezembro de 2015 é lançada a quarta candidatura de Marvão a Património Mundial, agora novamente conjunta, mas apenas com Elvas, Valença e Almeida. Na mesma, estes municípios pretendem elevar a Património Mundial as seguintes fortalezas abaluartadas da Raia: Cidade-Quartel Fronteiriça de Elvas e suas Fortificações, a Praça-Forte de Almeida, a Praça de Marvão e a Fortaleza de Valença.

Esta é, assim, uma história com quase duas décadas e várias “sequelas”!

Esclarecidos? Confusos?

Eu fiquei confuso!

Infelizmente, esta é uma história que até 2006 parecia muito feliz e agora, em 2016, me parece algo triste. Triste, porque:

a) – Parece não existir estratégia para atingir o tão ambicionado desígnio de Marvão chegar a Património Mundial. Diria, em linguagem de caçador, que se “atira a tudo o que mexe”! Parece que o que é importante é ir “renovando” a candidatura, mantendo a chama acesa, para daí tirar proveitos eleitoralistas.

b) – Não se esclarecem os marvanenses sobre o(s) processo(s) de candidatura e não se envolvem no(s) mesmo(s), tal como não se envolvem os concelhos vizinhos, que muito teriam a ganhar com o êxito de Marvão. Consequentemente, esta matéria em vez de ser uma “batalha” assumida por todas as forças marvanenses, torna-se, por vezes, motivo de “gincana” política.

c) – Não se entendem os avanços e recuos; ora candidatura individual, ora candidatura conjunta; e na conjunta, ora internacional, ora nacional!?

d) – O relacionamento com Elvas também parece, no mínimo, estranho. Elvas participa numa candidatura conjunta, mas “paralelamente” consegue o objetivo individualmente e com um coordenador “captado” a Marvão! E, posteriormente, integra nova candidatura conjunta!?

e) – Não se orçamentam os custos e não se informam os munícipes de quanto foi (e é) gasto nas variadas candidaturas. Em Maio de 2012 o presidente Vitor Frutuoso referiu à comunicação social que, até aquela data, tinham sido investidos 50 mil Euros na candidatura iniciada no ano anterior. Foi esta a única referência a custos que encontrei. Quanto terá já sido gasto na soma de todos estes processos, desde 1998?

Finalmente, refira-se que foi confrangedora a forma, digamos, banalizada como foi anunciada esta nova candidatura…

Sem envolvimento! Sem chama!

Eu considero que seria muito importante para Marvão e concelhos limítrofes o êxito na candidatura a Património Mundial. E que estes processos vão promovendo pesquisas importantes e deixando trabalho realizado, como seja o livro “Marvão, estudos e documentos de apoio à Candidatura a Património Mundial”, coordenado pelo Professor Jorge Oliveira, marvanense de elevada valia e profundo conhecedor do nosso património.

Mas será que esse caminho tem que continuar a ser percorrido a qualquer preço, caso se verifique que não é viável? Será que esse investimento, até ao momento infrutífero, canalizado para a promoção forte e séria da marca Marvão, isoladamente ou, preferencialmente, integrada com outras não se tornaria mais vantajoso?

Parece-me que esta é uma matéria que, no mínimo, merece um debate sério e profundo, a fim de, com o envolvimento de todos, se encontrar o caminho certo a percorrer.

Enfim, encontrar-se e definir-se “a” estratégia!

Nota: Informação consultada em:

http://www.cm-marvao.pt/pt/lista-noticias/545-fortalezas-abaluartadas-da-raia-apresentam-candidatura-conjunta-a-patrimonio-mundial

http://elvasnews.com/unesco-elvas-marvao-almeida-e-valenca-avancam-para-candidatura-conjunta/

http://www.publico.pt/culturaipsilon/noticia/candidatura-de-marvao-a-patrimonio-da-humanidade-retirada-para-evitar-a-sua-anulacao-1260812

http://diariodigital.sapo.pt/news.asp?id_news=232133

http://alemguadiana.blogs.sapo.pt/66969.html

http://www.instdesign.com/portfolio/bvdrcc/almeida-candidatura-das-fortificacoes-abaluartadas-da-raia-luso-espanhola-a-patrimonio-mundial-unesco

http://visao.sapo.pt/lusa/lusacultura/patrimonio-mundial-vila-fortificada-de-marvao-relanca-candidatura-em-conjunto-com-outros-municipios=f573307

http://www.cm-elvas.pt/pt/elvas-patrimonio-mundial-desde-2012

http://www.tvi24.iol.pt/sociedade/marvao-patrimonio-mundial/marvao-pondera-desistir-da-candidatura-a-patrimonio-mundial

http://www.publico.pt/local/noticia/marvao-pondera-retirar-candidatura-a-patrimonio-mundial-da-unesco-1547195

http://www.noticiasaominuto.com/cultura/102201/marv%c3%a3o-vai-candidatar-se-a-patrim%c3%b3nio-mundial-da-unesco

http://www.radioportalegre.pt/index.php/8-radio/2807-marvao-lanca-livro-de-apoio-a-candidatura-a-patrimonio-mundial.html

http://www.radiocampanario.com/r/index.php/regional1/6551-elvas-marvao-almeida-e-valenca-avancam-com-candidatura-conjunta-a-patrimonio-mundial


1 comentário:

  1. O processo de candidatura a patrimonio mundial de Marvão parece a obra de santa engracia. E enquanto se gastam recursos com candidaturas atras de candidaturas perde-se o foco no desenvolvimento sustentado e integrado do concelho. Qualquer marvanense gostaria de ver reconhecido mundialmente pela unesco a beleza e unicidade de Marvão no Mundo. Mas se isso nao acontecer, o que realmente importa é o reconhecimento dos cidadãos do Mundo. E esse já existe há muitos anos

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