por Fernando Dias
Recentemente, surgiu em alguma comunicação social
local e no site da CMM (http://www.cm-marvao.pt/pt/lista-noticias/545-fortalezas-abaluartadas-da-raia-apresentam-candidatura-conjunta-a-patrimonio-mundial), sem grande
destaque, a notícia de que os municípios de Marvão, Elvas, Almeida e Valença apresentaram
à Comissão Nacional da UNESCO uma proposta para inscrever as suas fortificações
na lista indicativa do Património Mundial. O Município de Marvão esteve
representado pelo vereador José Manuel Pires, pela consultora Vânia Rosa,
consultora da “Augustos Mateus, consultores” e pelo historiador, arqueólogo e
docente da Universidade de Évora, o marvanense Jorge Oliveira, como
co-coordenador da candidatura.
Estamos, portanto, perante mais uma candidatura de Marvão a Património Mundial!
Refiro que esta questão surgiu sem grande destaque, pois a comunicação social deu a notícia de forma quase telegráfica e no site da CMM a mesma surge ao mesmo nível de outras perfeitamente banais, como seja a tolerância de ponto dada aos trabalhadores nesta época festiva. Sublinha-se ainda o fraco, quase inexistente, envolvimento público do presidente do município nesta questão, pois não esteve na apresentação da candidatura e não promoveu, de forma vincada, esta temática no concelho e junto da comunicação social.
Eu, certamente
como muitos, fiquei confuso com esta notícia e com a forma como a mesma surgiu
e (não) foi divulgada. Por isso, para tentar entender o “enredo”, fiz uma
rápida pesquisa na net sobre as várias “sequelas” desta epopeia, tipo “Guerra
das Estrelas”, que é a candidatura de Marvão a Património Mundial.
Resumidamente:
1 – Em 1998, tem
início a primeira candidatura de Marvão a Património Mundial, com a coordenação
do Dr. Domingos Bucho.
2 – Em Maio de 2000, a candidatura é
aprovada pela Comissão Nacional da UNESCO, passando Marvão, então, a integrar a
lista indicativa, na qual são mencionados os motivos a propor pelo governo
português para a futura classificação da vila como Património Mundial.
3 – A partir de
2002, por decisão do Comité de Património Mundial da UNESCO, cada país passou a
poder apresentar apenas uma candidatura, tendo o governo português optado pela
vinha da ilha do Pico, preterindo a Várzea de Santarém e o sítio de Marvão.
4 - Em 2003,
Portugal candidatou as ilhas Selvagens, na Madeira, ficando assegurado que a
apresentação da candidatura do sítio de Marvão, ocorreria em 2004, o que veio a
verificar-se.
5 – Em Junho
2006, o executivo camarário decidiu retirar a candidatura de Marvão pelo facto
do ICOMOS (Conselho Mundial de Monumentos e Sítios), um órgão consultivo da
UNESCO que propõe os bens para a classificação de Património Cultural da
Humanidade, ter dado parecer negativo à candidatura de Marvão. Um dos
argumentos em que o ICOMOS se baseou para dar parecer negativo residiu no facto
de "Marvão não ser único", existindo outros locais no mundo com as
mesmas características deste sítio.
6 – Em Junho de
2006, o coordenador da comissão técnico-científica da candidatura de Marvão,
Dr. Domingos Bucho, indicou que estava a ser equacionada a possibilidade de
avançar com um novo processo, desta vez conjunto, com outros sítios de igual
valor patrimonial em Portugal ou Espanha.
7 – Em Setembro
de 2010, Marvão lança-se na sua segunda candidatura a Património Mundial, agora
integrado num processo conjunto para a classificação das Fortificações
Abaluartadas da Raia Luso-Espanhola, o qual tinha sido iniciado no ano
anterior, que engloba Almeida, Elvas, Estremoz, Marvão e Valença, em Portugal,
e Olivença, Badajoz e Ciudad Rodrigo, em Espanha.
8 - Em Fevereiro
de 2011, realiza-se o lançamento do terceiro processo de candidatura de Marvão
a Património Mundial, agora novamente de forma isolada, com a coordenação de
Ray Bondin, embaixador de Malta na UNESCO e presidente do Comité Internacional
das Cidades Históricas (CIVVIH), organismo integrado no Concelho Mundial de
Monumentos e Sítios (ICOMOS). Desta vez, o processo de candidatura abrange o
castelo da vila, a envolvente a Marvão, a Ammaia e o património megalítico e
natural.
9 – Em 30 de
junho de 2012, a
cidade de Elvas (de forma isolada) torna-se Património Mundial, tendo,
curiosamente, o Dr. Domingos Bucho como coordenador do dossiê de candidatura.
10 – Em Setembro
de 2014, no âmbito da candidatura então em vigor, é lançado o livro “Marvão,
estudos e documentos de apoio à Candidatura a Património Mundial”, coordenado
pelo Professor Jorge Oliveira, o qual junta vários estudos sobre o território
marvanense com vários temas como a biologia, a história, a geologia e a
arqueologia, com o objetivo de “informar o dossier de candidatura de Marvão a
património Mundial”.
11 – Em Dezembro de 2015 é lançada a quarta
candidatura de Marvão a Património Mundial, agora novamente conjunta, mas
apenas com Elvas, Valença e Almeida. Na mesma, estes municípios pretendem
elevar a Património Mundial as seguintes fortalezas abaluartadas da Raia:
Cidade-Quartel Fronteiriça de Elvas e suas Fortificações, a Praça-Forte de
Almeida, a Praça de Marvão e a Fortaleza de Valença.
Esta é, assim,
uma história com quase duas décadas e várias “sequelas”!
Esclarecidos?
Confusos?
Eu fiquei
confuso!
Infelizmente,
esta é uma história que até 2006 parecia muito feliz e agora, em 2016, me
parece algo triste. Triste, porque:
a) – Parece não
existir estratégia para atingir o tão ambicionado desígnio de Marvão chegar a
Património Mundial. Diria, em linguagem de caçador, que se “atira a tudo o que
mexe”! Parece que o que é importante é ir “renovando” a candidatura, mantendo a
chama acesa, para daí tirar proveitos eleitoralistas.
b) – Não se
esclarecem os marvanenses sobre o(s) processo(s) de candidatura e não se
envolvem no(s) mesmo(s), tal como não se envolvem os concelhos vizinhos, que
muito teriam a ganhar com o êxito de Marvão. Consequentemente, esta matéria em
vez de ser uma “batalha” assumida por todas as forças marvanenses, torna-se,
por vezes, motivo de “gincana” política.
c) – Não se
entendem os avanços e recuos; ora candidatura individual, ora candidatura
conjunta; e na conjunta, ora internacional, ora nacional!?
d) – O
relacionamento com Elvas também parece, no mínimo, estranho. Elvas participa
numa candidatura conjunta, mas “paralelamente” consegue o objetivo
individualmente e com um coordenador “captado” a Marvão! E, posteriormente,
integra nova candidatura conjunta!?
e) – Não se
orçamentam os custos e não se informam os munícipes de quanto foi (e é) gasto
nas variadas candidaturas. Em Maio de 2012 o presidente Vitor Frutuoso referiu
à comunicação social que, até aquela data, tinham sido investidos 50 mil Euros na
candidatura iniciada no ano anterior. Foi esta a única referência a custos que
encontrei. Quanto terá já sido gasto na soma de todos estes processos, desde
1998?
Finalmente,
refira-se que foi confrangedora a forma, digamos, banalizada como foi anunciada
esta nova candidatura…
Sem
envolvimento! Sem chama!
Eu considero que
seria muito importante para Marvão e concelhos limítrofes o êxito na
candidatura a Património Mundial. E que estes processos vão promovendo
pesquisas importantes e deixando trabalho realizado, como seja o livro “Marvão,
estudos e documentos de apoio à Candidatura a Património Mundial”, coordenado
pelo Professor Jorge Oliveira, marvanense de elevada valia e profundo
conhecedor do nosso património.
Mas será que
esse caminho tem que continuar a ser percorrido a qualquer preço, caso se
verifique que não é viável? Será que esse investimento, até ao momento
infrutífero, canalizado para a promoção forte e séria da marca Marvão,
isoladamente ou, preferencialmente, integrada com outras não se tornaria mais
vantajoso?
Parece-me que
esta é uma matéria que, no mínimo, merece um debate sério e profundo, a fim de,
com o envolvimento de todos, se encontrar o caminho certo a percorrer.
Enfim,
encontrar-se e definir-se “a” estratégia!
Nota: Informação consultada em:
http://www.cm-marvao.pt/pt/lista-noticias/545-fortalezas-abaluartadas-da-raia-apresentam-candidatura-conjunta-a-patrimonio-mundial
http://elvasnews.com/unesco-elvas-marvao-almeida-e-valenca-avancam-para-candidatura-conjunta/
http://www.publico.pt/culturaipsilon/noticia/candidatura-de-marvao-a-patrimonio-da-humanidade-retirada-para-evitar-a-sua-anulacao-1260812
http://diariodigital.sapo.pt/news.asp?id_news=232133
http://alemguadiana.blogs.sapo.pt/66969.html
http://www.instdesign.com/portfolio/bvdrcc/almeida-candidatura-das-fortificacoes-abaluartadas-da-raia-luso-espanhola-a-patrimonio-mundial-unesco
http://visao.sapo.pt/lusa/lusacultura/patrimonio-mundial-vila-fortificada-de-marvao-relanca-candidatura-em-conjunto-com-outros-municipios=f573307
http://www.cm-elvas.pt/pt/elvas-patrimonio-mundial-desde-2012
http://www.tvi24.iol.pt/sociedade/marvao-patrimonio-mundial/marvao-pondera-desistir-da-candidatura-a-patrimonio-mundial
http://www.publico.pt/local/noticia/marvao-pondera-retirar-candidatura-a-patrimonio-mundial-da-unesco-1547195
http://www.noticiasaominuto.com/cultura/102201/marv%c3%a3o-vai-candidatar-se-a-patrim%c3%b3nio-mundial-da-unesco
http://www.radioportalegre.pt/index.php/8-radio/2807-marvao-lanca-livro-de-apoio-a-candidatura-a-patrimonio-mundial.html
http://www.radiocampanario.com/r/index.php/regional1/6551-elvas-marvao-almeida-e-valenca-avancam-com-candidatura-conjunta-a-patrimonio-mundial
O processo de candidatura a patrimonio mundial de Marvão parece a obra de santa engracia. E enquanto se gastam recursos com candidaturas atras de candidaturas perde-se o foco no desenvolvimento sustentado e integrado do concelho. Qualquer marvanense gostaria de ver reconhecido mundialmente pela unesco a beleza e unicidade de Marvão no Mundo. Mas se isso nao acontecer, o que realmente importa é o reconhecimento dos cidadãos do Mundo. E esse já existe há muitos anos
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