por João Bugalhão
Meus caros amigos estejam tranquilos! Não venho para aqui dar maçada com futebóis. Embora, pelo título, possa parecer. O assunto que aqui me trás hoje, é o já abordado aqui em baixo pelo Fernando Bonito - A Candidatura de Marvão a Património Mundial, que pelas diversas vicissitudes estratégicas que tem sofrido ao longo de 20 anos, mais parece, a evolução táctica por que tem passado o futebol.
Ao trazer aqui
este assunto, não é porque o Fernando não o tenha tratado de uma forma completa
e rigorosa, é antes e apenas uma complementarização e, simultaneamente,
participar com a minha opinião num debate sobre um tema que tem estado na
agenda dos marvanenses, e que tenho acompanhado ao longo de todo o seu percurso.
Por outro lado, é também o tentar informar e
sensibilizar a comunidade marvanense, acerca de um processo que não está concluído
e que demora a ter o seu epílogo. Isto apesar de haver alguns marvanenses a
pensarem que Marvão já tem essa distinção, tanto tem sido o ruído à volta do
processo. No entanto conjecturo que, pelos caminhos por onde anda e tem andado,
não será certamente durante a minha vida terrena, ou a de muitos de vós, que
tal acontecerá.
Ao dar este título
ao artigo, quando remeto para a comparação com a evolução das tácticas do
futebol, quero dizer que também esta Candidatura já passou por diversos formatos,
sem que até aos dias de hoje alguma se tenha tornado profícua. O processo tem
servido mais para determinados autarcas e personalidades se promoverem
eleitoralmente, sem que, efectivamente se tenha avançado nos resultados
obtidos. Tem sido por assim dizer, o que acontece a uma “equipa” frágil/fraquinha:
não há esquema táctico que lhe valha! Bem, para não dizerem que os termos são exagerados,
digamos que, os resultados, não têm sido os anunciados.
1 - O “4-2-4” do tempo do Eusébio
Como muito bem
diz o Fernando Bonito, o 1º projecto começou quando Manuel Bugalho em 1997
chegou à presidência da autarquia marvanense. Era um projecto aliciante, aglutinador
e de consenso que ele trazia em “carteira”, que para além de ser um bem para
Marvão (há excepção de alguns cépticos, poucos...!), era também uma forma para
promover a sua projecção pessoal local, regional e/ou mesmo nacional. Durante 8
anos foi um implicar/gastar inúmeros recursos materiais e humanos neste sonho,
com algumas realidades (carências da comunidade) a serem preteridas. Foi a
“táctica” do apostar em Marvão (ou “do Marvão” como dizem os cosmopolitas
lisboetas) como lugar único no mundo (geográfica e patrimonialmente): a sua singularidade! Só que essa
definição só passava pela cabeça daqueles que nunca andaram pelo mundo, e
quando tal “absurdo” chegou às portas da UNESCO, outros valores se levantaram
(como foi a força política e o poder de outras candidaturas, como os casos das
Ilhas Selvagens em 2003, e em 2004 das Vinhas do Pico dos Açores), e lá se foi
a candidatura de Marvão! E para não “chumbarmos”, ou descermos de divisão se
futebol fosse, em 2006 fomos compelidos a desistir, e o sonho de Manuel Bugalho
não se realizou.
Não é que não
tenham existido alguns avisos atempados, onde me incluo, mas nessa altura pouca
gente me quis ouvir. Deixo aqui por exemplo um pequeno extracto de uma Declarações
de Voto que fiz, enquanto membro da Assembleia Municipal dessa época:
Na Acta nº2
desse órgão em Abril de 2002 disse: “…
faço uma análise francamente negativa sobre o deficit de peso político deste
Executivo (entre outras coisas), para influenciar o ex - Governo Central do PS,
a aceitar a Candidatura de Marvão a Património Mundial, projecto que o
Executivo considera a “galinha de ovos de ouro” para o desenvolvimento do
Concelho.”
Um ano depois em
29/4/2003 noutra Declaração de Voto, fiz a seguinte advertência: “…se as infra-estruturas subterrâneas na
vila de Marvão não avançarem rapidamente, se não se resolver problema dos
esgotos a céu aberto na encosta leste da vila, se não reformularmos a
candidatura, se não se mobilizarem os marvanenses e os concelhos limítrofes de
Portugal e Espanha para nossa causa, corremos o risco de a UNESCO nos mandar às
urtigas, e não aprovar a Candidatura de Marvão.”
Infelizmente
assim viria a acontecer. Foi a aposta
falhada da táctica do “4-2-4”,
como muito bem em tempos aqui (ver os diversos comentários) se discutiu.
2 - O “4-3-3” dos tempos do Cruyff
Entretanto tinha
chegado ao poder em 2005 Vítor Frutuoso, que na sua génese, nunca vira com bons
olhos a aposta neste projecto. Por isso, o falhanço da Candidatura, serviu na
altura como arma de arremesso aos “sonhos” do anterior executivo, e de acusação
por muitas falhas no não investimento em infra-estruturas reais no concelho. A
“coisa” ficou assim esquecida nas gavetas 3 ou 4 anos.
Só que em finais
de 2009 havia eleições e talvez, como por acaso (ou influenciados por uma tal Elvas),
a “coisa” volta a saltar da gaveta. Havia então uma nova Candidatura, e claro
uma nova “táctica”: A partir de então, a
aposta, seria no clássico “4-3-3”!
Dessa vez é que
seria, afirmava-se então! Se sozinhos não conseguimos, juntamo-nos aos vizinhos
de Elvas, Almeida, Estremoz e Valença do Minho, em Portugal; Olivença, Badajoz
e Ciudad Rodrigo, em Espanha, fazemos uma candidatura das fortificações Abaluartadas
da Raia Luso-Espanhola e não haverá UNESCO que nos resista. Não estava mal
pensado, não senhor.
Só que em 2010,
ainda se não tinham assimilado os métodos da nova táctica, Elvas aproveitando
uma janela de oportunidade “clandestina” (arranjinho rondão - socrático), roeu
a corda e com um treinador “tipo Jesus” que tinha estado como Coordenador da
Candidatura de Marvão até 2006, fez uma Candidatura individual relâmpago (?) e
em 2012, surpresa das surpresas, vê reconhecida pela UNESCO a sua
“singularidade” como “o maior sistema de
fortificações abaluartadas do mundo”!
E esta hein!
Devem ter dito os restantes, entre eles Marvão. E a “coisa” abortou
precocemente, com algumas birras e nomes à mistura! Nem sequer entrou em competição.
3 - O “4-2-3-1” de José Mourinho
Chegámos então a
2011. Passados os breves burricos, curadas as nódoas negras, isto das “tácticas”
nunca deixam de evoluir, um certo dia numa conferência exterior, aparece um
“tal” maltês a falar bem cá do burgo: que pois sim, era uma pena Marvão ficar
para trás, por ele (se fosse ele) Marvão seria no dia seguinte Património da
humanidade..., e zás, lá volta “coisa”. O anúncio foi feito aqui em Outubro de 2011.
Chegou a
dizer-se, e proclamar-se, que Marvão havia contratado o “Mourinho” das
candidaturas e, dessa vez, é que Marvão seria mesmo Património Mundial. Para
tal bastaria desistir ou reformular as ideias anteriores (as tácticas velhas!).
Qual “singularidade geográfica ou de património”? Qual fortalezas amuralhadas? Agora
seria a Vila de Marvão, as suas gentes e costumes e os seus valiosos arredores
(Sever, Ammaia, Megalítico, etc.). A “buffer
zone” marvanense, como pomposamente lhe chamavam. Eu pus-lhe outro nome, mas
não posso dizer aqui! E foi assim que se começou a ouvir falar do último grito
da moda em tácticas: o famoso “4-2-3-1”.
Esse famoso
“Mourinho” (perdoem, o Sr. Embaixador Ray Bondin) chegou a ser apresentado em
Fevereiro de 2011, com pompa e circunstância à Assembleia Municipal de Marvão,
que o acolheu com o fervor tipo adeptos de futebol no início de uma nova época.
As coisas foram andando e, resultados, poucos ou nenhuns.
Em Abril de
2012, já após o meu abandono como Membro da AM, e em período destinado a
perguntas do público, questionei o Executivo de Vítor Frutuoso sobre o processo,
os seus custos e orçamentos futuros, como ficou expresso na Acta dessa
Assembleia:
“O Sr. João Francisco Bugalhão solicitou
informação acerca das contas do projecto de candidatura de Marvão a Património
Mundial, quer da anterior, quer da actual.
O Sr. Vereador José Manuel Pires informou
que a anterior custou aproximadamente 226 mil euros. Para a presente
candidatura seria necessária, no entender do vereador, uma verba na ordem dos
15 mil euros.
Tomou a palavra o Sr. Presidente da Câmara
Municipal que equacionou a realização de um fórum que avalie a vontade da
população sobre a continuidade da candidatura a Património Mundial, defendendo,
contudo, as grandes vantagens e benefícios que todo este processo trouxe a
Marvão, quer na melhoria de infra-estruturas, quer na visibilidade que, em
termos turísticos, se usufruiu com todo este processo. O Sr. Presidente
esclareceu ainda, que Marvão necessita estar na ribalta para continuar a
aumentar o seu número de visitantes, facto que se tem verificado, pese à grave
conjuntura económica que se atravessa.”
Foi o único
projecto da Candidatura em que vi o presidente Frutuoso deveras envolvido.
Prometeu um Fórum, mas apenas realizou 3 Sessões de Esclarecimento, sempre com
a sua presença, para ouvir os marvanenses! Estão aqui resumidas em reportagens
que escrevi na altura: Marvão, - SA das Areias - SS da Aramenha.
Resultados e
conclusões dessas Sessões, eu, nunca tive conhecimento e costumo andar atento.
O que me ficou foi uma eloquente e incentivadora CartaAberta aos marvanenses, escrita por um dos Técnicos (Francisco Ramos)! Coisas
nunca vistas anteriormente.
Não sei se toda
esta implicação deu algum resultado acrescido para esse “novo” Projecto de
Candidatura, a julgar pelos resultados, parece que não! Mas que serviu às mil
maravilhas para a campanha eleitoral de 2013, isso não tenho dúvidas!
4 – O “4-4-2” de Jorge Jesus
E por fim quando
todos pensávamos (depois de tantas promessas de sucesso anunciadas, de ida até
à liga dos campeões), que as coisas do anterior processo iam “de vento em popa”,
eis que, somos surpreendidos com nova mudança táctica, apresentada aqui pelo Vereador José Manuel Pires: parece que
agora o “objecto” a candidatar (?) serão as
praças amuralhadas da linha de fronteira mais velha da Europa: Portugal e
Espanha.
Mas pergunto eu,
se falamos de “fronteira”, como podemos falar das praças só de Portugal:
- Cidade - Quartel
Fronteiriça de Elvas e suas Fortificações;
- Praça-Forte de
Almeida;
- Praça de
Marvão;
- Fortaleza de
Valença.
E as de Espanha?
E será que a fronteira entre os dois países ibéricos começa em Valença e acaba
em Elvas?
Deixo pois aqui, e para terminar, a minha intervenção na Reunião de
Câmara de 21 de Dezembro de 2015, chamando a atenção para estas situações e em
jeito de aviso, quando a “coisa” foi aí apresentada pelo Vereador José Manuel
Pires:
“O Sr. João Bugalhão referiu que tem vindo a
acompanhar o processo da candidatura a Património Mundial desde o princípio,
não muito por dentro, mas sempre um pouco à distância, o que dá uma outra visão.
Também acompanhou todas as sessões de esclarecimento ao público que foram
feitas há 3 anos nas freguesias do concelho, até escreveu uma série de artigos
na altura a alertar para a maioria dos problemas que se têm vindo a verificar.
Agora com esta nova táctica e mudança de
estratégia acha que se poderia ter feito uma coisa mais abrangente, integrando
todas as fortalezas de fronteira. Falou-se aqui de Castro Marim mas lembra
também Mértola, Caminha, Miranda do Douro, e de certeza que na zona nordeste
também haverá outras praças que pudessem integrar e que, certamente, pudessem
fortalecer o processo.
Alertou ainda para que, se fosse ele que
estivesse na cúpula da Unesco e lhe aparecesse um processo com o argumento de
candidatar a “zona de fronteira mais antiga da Europa” e suas fortalezas, mas
que apenas lhe aparecesse o lado português, imediatamente devolveria, e
recomendaria que se integrassem os dois lados da fronteira: Portugal e Espanha.
E certamente será assim que sucederá. Referiu ainda que, embora os prazos já
sejam muito apertados, talvez pudessem ser chamadas todas a este processo.
Perguntou ainda se Marvão já parou para
analisar o que é que tem corrido mal em cada um dos passos (processos
estratégicos)? Se já assumiu as suas responsabilidades e culpas, sobretudo da
última, que durante 4 anos nos tentaram “vender” como de sucesso garantido, e
agora já estamos a entrar noutra? Porque é que se tem falhado? E que já deve ter
sido gasto mais de um milhão de euros, e o barco nunca mais aporta!
Foi-nos dito que o “maior” nas Candidaturas
era o Dr. Ray Bondin, que ele é que nos lá levaria (na candidatura de Marvão e
zona envolvente), mas que falhou e já nem se ouve falar nele.
Era bom que se pensasse a sério, o quanto
antes, numa estratégia ganhadora. Que tem vindo, há vários anos e
antecipadamente, a chamar a atenção e a escrever sobre o assunto para prevenir
alguns dos erros cometidos.”
A resposta do
Sr. Vereador foi a seguinte:
“O Sr. Vereador, Dr. José Manuel Pires
explicou que este processo está aberto a que novos parceiros possam entrar e
que esta estratégia deverá ser a mais ganhadora. A ficha de inscrição que se
está a preparar é para a lista indicativa de Portugal para que se tenha uma
previsão da inscrição dos bens na fronteira, dos dois lados da raia. Espanha já
tinha esse trabalho feito e Portugal está agora a fazer. Durante o ano 2016
será a compilação de todos os bens e só em 2017 se saberá. E mais fácil termos
o carinho da Unesco estando numa candidatura em conjunto.”
Conclusão: Está dado o mote para as
eleições de 2017
Nota: Entretanto, meu caro Fernando
Bonito, e como questionaste os custos, eu estimo que ao longos destes 18 anos
se gastaram cerca de 1 milhão de euros em todo o processo. Se serviram apenas
para publicitar a “marca”? Isso não sei, mas deduzo que sim. Se só por isso
valeu a pena? Pois eu acho que não, só para isso far-se-ia com facilidade mais
barato! Mas o presidente diz que não faz mal, porque a maioria desse dinheiro
veio de financiamentos, como se não tivesse que ser pago por alguém...