sexta-feira, 30 de novembro de 2018

CARTA ABERTA AO PRESIDENTE DA CÂMARA MUNICIPAL DE MARVÃO


Exmo Sr. Presidente da Câmara Municipal de Marvão
Caro Luís Vitorino

Na última sessão da Assembleia Municipal (AM) de Marvão, após o chumbo do orçamento para 2019 e GOP 2019/2022, fiquei surpreendido com a reação do Sr. Presidente, Luís Vitorino. Uma reação de ataque pessoal primário e antidemocrático aos elementos do Movimento Independente “Marvão para Todos” (MpT) que, não obstante sermos apenas 2 num total de 19, responsabilizou pelo referido “chumbo”, como se isso não fosse uma situação perfeitamente normal em democracia. Foi um ataque que demonstrou um total desrespeito pelo processo democrático em geral e pela referida AM, em particular.

Pensei que se trataria apenas de uma reação “a quente”, desculpável, pois julgo que todas as pessoas têm direito a, por vezes, incorrer em reações emotivas irrefletidas.

Enganei-me!

O Sr. Presidente, já “a frio” reiterou esses ataques pessoais num “post” no facebook e em declarações para a Rádio Portalegre. Então senti que a imagem que vinha a tentar passar de autarca afável, dialogante e negociador não seria genuína. Parece que essa personalidade só se manteria caso obtivesse o que pretendia. Afinal, o hábito de oito anos, na governação anterior com maioria absoluta, parece querer perdurar.

Acontece que agora, felizmente, não há maiorias absolutas em Marvão, pelo que, consequentemente, tenderá a haver mais escrutínio do poder, mais transparência e maior desenvolvimento do processo democrático.

Como bem sabe, no processo de negociação deste orçamento, por si tão “publicitado”, o MpT apresentou quinze propostas estratégicas somadas a outras tantas de índole mais específica, sendo que apenas uma (oficina de Português para a comunidade estrangeira) foi contemplada no orçamento final, mas assumida sem qualquer profundidade, pois a verba alocada foi de apenas €2,000,00.

O orçamento provisório que inicialmente apresentou rondava os 5,784 milhões de Euros, sendo que depois das “pseudo” negociações surgiu com um orçamento final de 6.650 Milhões de Euros. Acréscimo suportado exclusivamente em financiamento não definido (isto é, financiamento que não existe). Portanto, completamente empolado, pois “financiamento não definido” é uma “mão cheia de nada”. Neste orçamento o financiamento não definido tem o peso brutal de 43% (2.869 Milhões de Euros). Acresce-se que não se vislumbra qualquer estratégia lógica nas “obras” anunciadas.

Teve, então, a arte de “encomendar” uma notícia ao DN, a sair na semana imediatamente antes da discussão do orçamento na AM, onde se anunciava este elevado orçamento, nada empolado, anunciando milhões e milhões, como se de financiamento definido se tratasse, em projetos que pareciam estar já aí “ao virar da esquina”, como seja uma praia fluvial na barragem da Apartadura. E contando as “cabeças” da AM, indiciando pressão sobre as eventualmente “desalinhadas”.

Estávamos, então, perante um orçamento ridiculamente empolado e, praticamente, sem incluir propostas do MpT. Para agravar a situação, verificava-se que este executivo, à imagem do anterior e à revelia das recomendações da AM, continuava com práticas perniciosas e obscuras na contratação por ajustes diretos, não indo portanto ao encontro da nossa exigência de transparência. Exigência para nós inegociável!

Não obstante o descrito, o Sr, Presidente considerou que o MpT tinha obrigação de viabilizar este orçamento e, como essa não foi a nossa decisão, avançou para o ataque pessoal em vez de, democraticamente, aceitar a decisão e voltar para a mesa das negociações.

A acusação fundamental é que como não residimos no concelho de Marvão, não temos direito a votar contra o seu orçamento. Lembro-lhe que aquando das eleições já não residíamos no concelho… e os marvanenses elegeram-nos. Lembro-lhe, ainda, que o cabeça de lista do seu partido à AM (Prof. Vitor Agostinho) também não reside no concelho e até nem tem, como nós, laços profundos ao mesmo. E lembro-lhe que os dois anteriores presidentes da AM, eleitos pelo seu partido (Dr. Catarino e Dr. Carlos Sequeira) também não residiam no concelho.

Como lhe referi, não residindo no concelho aportamos valor à AM, pois temos a possibilidade de conhecer outras realidades e compará-las com o que se passa na nossa terra. Temos a possibilidade de defendermos propostas estratégicas que vão ao encontro da generalidade dos marvanenses e daquilo que consideramos melhor para o desenvolvimento do concelho, pois não estamos condicionados por interesses pessoais (sejam empregos, negócios ou outros favores) e, por isso, temos também autonomia para defendermos a transparência.

Em conclusão, para quem quer governar sem ser escrutinado, como se de uma democracia não se tratasse, somos um incómodo…

Em democracia, numa situação destas, espera-se que o presidente dialogue de forma conciliadora com as várias forças e saiba negociar consensos, ao invés de lançar ataques pessoais, de se vitimizar e, de uma forma inqualificável, ameaçar os marvanenses que a câmara já não poderá cumprir os seus compromissos, por responsabilidade do MpT, como se ainda não estivesse a trabalhar com o orçamento de 2018.

Falando de compromissos, por exemplo, julgo que deveria, conforme nossa proposta, avançar rapidamente com o subsídio às instituições de apoio social, pois passar de subsídios de certa forma elevados nos anos anteriores para subsídio “zero” este ano é uma irresponsabilidade.

Refiro-lhe ainda que das suas declarações a que considero mais grave é quando afirma, em total desrespeito pelo processo democrático, que pensa levar novamente à AM exatamente o mesmo orçamento, para depois eventualmente aceitar alguns compromissos. Ainda por cima após ter afirmado na última AM que em 2018 assinou o compromisso com o PS apenas para “vender o seu peixe” (palavras suas!). Aliás, seria importante mais marvanenses assistirem às sessões da AM, a fim de observarem o desrespeito com que trata este órgão deliberativo.

Para bem do nosso concelho tenho ainda a esperança que abandone esta estratégia de vitimização, com fins meramente eleitoralistas, e se sente à mesa das negociações. Pois também sei que, para além desta estratégia, considera os elementos do MpT como sendo pessoas com competências, a quem até por vezes tem recorrido para solicitar apoio em algumas áreas (saúde e golf, por ex), íntegros e que tomam posições nas diversas matérias, caso a caso, perante o que considerem melhor para concelho, muitas vezes até ao lado do seu partido.

Sei que sabe que desempenhamos este papel guiados pela paixão à nossa terra e não na defesa de interesses próprios.
Assim, convido-o a ler atentamente a nossa declaração de voto, publicada no “face” do Movimento Independente “Marvão para Todos” e pensar nela duma forma construtiva.

Após este “passo atrás”, convido-o a “dar dois à frente”, pois nós, perante passos concretos e genuínos no sentido da implementação de algumas medidas estratégicas (que promovam o desenvolvimento de Marvão e que vão ao encontro das necessidades da generalidade dos marvanenses) e no sentido da transparência, estaremos naturalmente disponíveis para viabilizar o orçamento.

Com os melhores cumprimentos
Fernando Dias
Membro da AM de Marvão pelo MpT

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